Por: Maria Ramos
Alguma vez você já se viu perdido, sem saber onde estava ou sem conhecer o caminho de volta? Imagine agora estar perdido no meio de uma floresta, de um deserto ou em alto-mar. Não é à toa que se orientar no tempo e no espaço sempre foi um problema que o homem buscou resolver.
Da observação dos astros aos chamados GPS, modernos aparelhos controlados por satélites, a bússola foi o mecanismo de orientação que causou maior impacto na sociedade. Considerada uma das invenções tecnológicas mais importantes da história, esse instrumento possibilitou uma revolução no comércio do Mediterrâneo e o início da Era das Grandes Navegações. Foi com a ajuda deste aparelho que navegadores mapearam oceanos e descobriram novas terras, incluindo o continente americano.
A bússola e o magnetismo terrestre
Antes de você saber como surgiu a bússola e como ela funciona, é preciso que você compreenda que o nosso planeta é uma espécie de ímã gigante. Um ímã é um objeto capaz de atrair materiais metálicos como o ferro, devido à atuação de um campo magnético. A atuação desse campo é mais intensa nas extremidades e, por isso, cada ponta do ímã é chamada de polo magnético.
Existem sempre dois polos num ímã: um denominado polo norte e outro polo sul. Quando dois polos de mesmo nome (norte-norte ou sul-sul) se aproximam, eles se repelem e quando dois polos contrários (norte-sul) chegam perto, eles se atraem. Um aspecto interessante é que os polos de um ímã não podem ser separados, ou seja, mesmo que seja partido ao meio, o ímã continua com duas polaridades.
Pois bem, a Terra também possui um campo magnético. Alexandre Cherman, astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro, explica que esse campo é gerado principalmente pelo núcleo do planeta – uma bola de ferro sólida, sob alta pressão e temperatura, que “flutua” no magma (lava em estado líquido).
Segundo o pesquisador, o campo magnético terrestre exerce uma atração sobre materiais magnetizados e é por isso que, se suspendermos um ímã por um pedaço de barbante, por exemplo, ele se orienta na direção dos polos magnéticos, ou seja, do eixo Norte-Sul. Por convenção, denomina-se norte do ímã o lado que aponta para o polo norte magnético terrestre e sul, o que aponta para o polo sul magnético terrestre.
É exatamente isso o que chamamos de bússola – um ímã orientado no campo magnético terrestre que indica a direção norte ou sul.
História da bússola
Acredita-se que os chineses foram os primeiros a utilizar, anos antes de Cristo, uma barra de minério de ferro com propriedades magnéticas naturais, a magnetita, para localizar o Sul. As primeiras bússolas chinesas, entretanto, não utilizavam agulhas como as atuais e eram mais usadas como recurso mágico para prever acontecimentos futuros. Elas eram compostas por um prato de formato quadrado, representando a Terra, e um objeto com a forma de uma concha, cujo cabo indicava o Sul, representando a Ursa Maior
A Ursa Maior é um conjunto de sete estrelas que, ligadas, desenham um quadrado e uma cauda. Os chineses viam nessa figura geométrica uma concha que oferecia comida nos tempos de fome.
Séculos depois, os chineses descobriram que podiam fabricar um ímã se esfregassem, em pequenas agulhas de ferro, um pedaço de magnetita ou se aquecessem essas agulhas e deixassem-nas imóveis na direção norte-sul até esfriar.
Não se sabe ao certo como a bússola chegou nos países islâmicos e posteriormente na Europa. Mas já no século 13, o instrumento era amplamente conhecido e utilizado em todo o continente europeu. Apesar das controvérsias, historiadores acreditam que foi Flávio Gioia que em 1302 alterou a bússola para ser usada a bordo, usando a agulha sobre um cartão com o desenho de uma rosa-dos-ventos.
A bússola, atualmente, consiste em uma agulha magnetizada que, flutuando dentro de uma caixinha transparente, tem uma das extremidades pintada de vermelho indicando sempre o “Norte”. Mas este não é precisamente o Polo Norte geográfico da Terra, como veremos adiante.
A bússola não aponta para o Polo Norte?!
Data pelo menos do século XV o conhecimento de que a bússola, na verdade, não aponta exatamente para o Norte Verdadeiro ou Polo Norte geográfico, como muitas pessoas acreditam ainda hoje.
O astrônomo Alexandre Cherman explica que existe uma distância entre o Norte Geográfico e o Norte indicado pela bússola que pode ser pequena ou grande dependendo do lugar. Essa distância, medida em graus, é chamada de declinação magnética, numa referência ao desvio provocado pelo magnetismo.
A declinação foi verificada depois que as bússolas tornaram-se mais precisas e, então, foi possível o confronto com a observação da Estrela Polar. Essa estrela, que pode ser avistada no hemisfério norte do planeta, já era usada há vários anos como referência para localizar o Norte. Entenda o porquê destas diferenças:
Norte Verdadeiro (TN) – Este é o Norte Geográfico, mais conhecido como Polo Norte, usado como referência nos mapas geográficos.
Norte Magnético (MN) – Ponto de encontro das linhas do campo magnético da Terra. Fica a aproximadamente 11° do Polo Norte Geográfico, mas esta posição não é fixa e varia com o passar dos anos.
Norte da Bússola (CN) – Este é o norte para onde a bússola aponta, que também não coincide necessariamente com o Norte Magnético. Existe uma diferença que pode variar de 0 a algo em torno de 35° conforme a localidade.
Parece meio complicado, mas o que ocorre é o seguinte: as linhas de um campo magnético são curvas, como na figura acima. Mas no caso da Terra, estas linhas são, na verdade, tortas por causa das correntes subterrâneas de magma que alteram o campo e até da interferência de ventos solares (gases expelidos pelo sol). Cherman explica que, para piorar, em alguns lugares, existem grandes minas de minério de ferro que modificam o campo magnético ao seu redor.
Como a agulha da bússola se mantém alinhada com o campo magnético e as linhas deste campo são tortas, o “norte” para o qual a bússola aponta varia muito de um lugar para outro. Veja como é, de fato, o campo magnético terrestre.
Sendo assim, para localizar onde fica realmente o Norte Geográfico, usando uma bússola, é preciso que você saiba qual é o valor da declinação magnética do local, principalmente para percorrer grandes distâncias. Então, para não ter que fazer muitos cálculos, o melhor é comprar uma bússola que venha com parafuso para ajuste de declinação.
E lembre-se, sempre, que metais e circuitos elétricos próximos podem influir na sua medição. Por isso, nunca use a bússola no interior de um veículo ou próximo a linhas de alta tensão.
* Foto: Typo/WikipediaConheça outros mecanismos de orientação usados pelo homem:
Guiado pelas estrelas… Ou pelo GPS
Veja também:
http://www.silvestre.eng.br/astronomia/criancas/orientasol
http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/ensino-fundamental-astronomia/parte1a.
Data Publicação: 03/12/2021