Por: Denise Moraes
Vamos recordar um pouco da História para falar de um bioma que, antes mesmo de ser classificado como bioma, já era muito importante para o Brasil.
Quando os portugueses chegaram ao litoral do Brasil, em 1500, de suas caravelas puderam ver uma paisagem diferente. Como narrou o escrivão Pero Vaz de Caminha em uma carta que fez para o rei de Portugal, “à hora de vésperas, avistamos terra! Primeiramente um grande monte, muito alto e redondo; depois, outras serras mais baixas, da parte sul em relação ao monte e, mais, terra chã. Com grandes arvoredos”.
O que Caminha e seus companheiros de tripulação viram dos navios é o ambiente que hoje denominamos Mata Atlântica. Ela recebeu este nome justamente porque está próxima ao oceano Atlântico. Os montes arredondados, a terra chã e os grandes arvoredos caracterizam este bioma, que hoje se reduz a apenas 8% do que era na época da chegada dos portugueses.
A Mata Atlântica acompanha o litoral brasileiro do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, englobando áreas de dezessete estados. Como ela está presente em diferentes regiões do Brasil, apresenta diferentes ecossistemas, com variações em relação à fauna, vegetação, solo, relevo e características climáticas. Mas existem alguns elementos comuns por todas as regiões de Mata Atlântica. São esses elementos que vamos destacar, para que você saiba mais sobre essa preciosidade que encantou os conquistadores.
Fauna
Na Mata Atlântica já foram encontradas cerca de 260 espécies de mamíferos, 620 de aves, e 260 de anfíbios, além de muitos répteis e insetos. Ela abriga 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil. Entre os que correm o risco está o mico-leão-dourado, que adora passear pelas árvores da mata.
Outros mamíferos também vivem nesta mata: bichos-preguiça, gambás, morcegos, furões, saguis e pacas são normalmente vistos neste ambiente, que guarda ainda outra surpresa: o muriqui, maior macaco do continente.
Dos répteis, podemos destacar o jacaré-de-papo-amarelo, cágados, cobras corais e teiús, espécies de lagartos que podem passar de um metro de comprimento. Entre as aves mais comuns estão o sanhaço, o pica-pau, a jacutinga, a araponga e os gaviões.
Vegetação
Para facilitar o estudo dos vegetais que formam esta mata, os pesquisadores classificaram a vegetação de acordo com o que chamam de extratos. No extrato superior estão as árvores também mais altas, as que recebem grande parte da luz do sol. Nesse extrato, que também pode ser chamado de dossel, estão árvores como o manacá-da-serra e o guapuruvú.
Logo abaixo do dossel, está o extrato arbustivo, do interior da mata, que reúne espécies sob a sombra das árvores mais altas. No extrato arbustivo, há árvores como a jaboticabeira, a palmeira-juçara, a begônia, o jatobá, a quaresmeira e o ipê.
O extrato mais baixo é o herbáceo, formado por plantas de tamanho pequeno que vivem próximas ao solo. Neste grupo estão arbustos baixos, ervas, gramíneas e musgos.
Se as árvores do dossel capturam a maior quantidade de luz solar e depois delas as plantas do extrato arbustivo também buscam um pouquinho desta luz, quanto será que sobra de luminosidade para as plantas mais baixas, que se encontram lá dentro da mata fechada? Sobra pouco mesmo, mas sobra. Folhas grandes presentes nos vegetais dos extratos mais baixos são um mecanismo de adaptação que aumentam a superfície de captação da luz.
O pau-brasil, planta hoje difícil de se encontrar, era comum antigamente e foi o primeiro alvo dos exploradores portugueses, que utilizavam uma substância colorante extraída da árvore, a brasileína, para fazer tinta vermelha.
Relevo
A Mata Atlântica se estende por toda a planície costeira, alcançando a cadeia de montanhas que acompanha a costa brasileira. Esta cadeia recebe nomes diferentes de acordo com a região pela qual passa. No sudeste, por exemplo, um pedaço dela recebe o nome de Serra do Mar. Entre a planície e as montanhas existem algumas colinas e morros arredondados. Um deles, aquele que chamou a atenção de Pero Vaz de Caminha, é o Monte Pascoal, na Bahia. Com 586 metros de altura, o monte ganhou este nome porque na ocasião da chegada dos portugueses era época de Páscoa.
Solo
O solo desta mata é em geral bastante raso, pouco ventilado, sempre úmido e recebe pouca luz, pois, como já vimos, a maior parte da luminosidade é absorvida pelas folhas das árvores mais altas.
É um solo pobre, mas que tem a fertilidade garantida pela existência do que se chama serrapilheira: uma camada com restos de vegetação, como folhas, caules e cascas de frutos que cobrem a superfície do solo.
A decomposição desta grande quantidade de matéria orgânica é o que garante a reciclagem de nutrientes no meio. Os nutrientes que estão na serrapilheira e são absorvidos pelo solo acabam retornando às plantas, em um ciclo que garante a vegetação exuberante deste bioma.
Água
Nas regiões de Mata Atlântica estão localizados reservas de água necessárias ao abastecimento de 70% da população brasileira. No bioma existem rios que fazem parte de sete das nove bacias hidrográficas do país.
Estamos falando de uma floresta muito úmida: a chuva que escorre por folhas e troncos e acelera o processo de decomposição no solos também infiltra-se nele, alimentando lençóis freáticos, o que, por sua vez, pode gerar olhos d´água e nascentes. Os rios são também alimentados pela água das chuvas e podem ter seus cursos modificados pela intensidade delas.
Clima
Como está espalhada por todo litoral brasileiro, a Mata Atlântica está submetida a climas diferentes, de acordo com cada região. Sendo assim existem pedaços da mata marcadas pelo clima subtropical úmido no sul; outros marcados pelo clima tropical e outros ainda que ocorrem muito próximas à caatinga semiárida nordestina.
Mas existe um fenômeno que marca todas as regiões de floresta atlântica, de norte a sul do país: a grande quantidade de chuvas, resultado da proximidade do mar e dos ventos que sopram do oceano em direção ao continente. Esses ventos levam massas de ar muito úmidas, as quais, quando encontram as montanhas que cercam a Mata Atlântica, se condensam e se transformam em chuva.
Imagens:(1) Foto: Abrivio/Wikipedia
(2) Foto: Luis A. Florit
(3) Foto: Mauroguanandi/Wikipedia
(4) Foto: Helio VL/Wikipedia
(5) Foto: Martin St.Amant/Wikipedia
(6) Foto: su neko/Wikipedia
Referências:
PRADO, J. F. de Almeida. Pero Vaz de Caminha: carta do achamento do Brasil. Rio de Janeiro: Agir, 1998. (Coleção Nossos Clássicos, nº 87)
Fontes de informação:
LINHARES, Sérgio & GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje – Vol 3. São Paulo: ed. Ática, 1998.
Consultoria: Vânia Rocha, bióloga / Museu da Vida (Fiocruz).
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Data Publicação: 23/11/2021