Créditos: Francesca Hotchin on Unsplash

 

Os fungos podem se manter vivos mesmo em condições extremas de sobrevivência

Você pode nem perceber, mas os fungos estão por toda parte, seja no ar ou no mar, no deserto ou nas geleiras. Atualmente, há cerca de 120 mil espécies de fungo conhecidas, mas os cientistas acreditam que existam 2,2 a 3,8 milhões de espécies vivendo em todos os cantos do planeta. Esses diferentes fungos estão adaptados aos mais diferentes ambientes, inclusive a condições extremas de pressão e temperatura.

 

Fungos resistentes a regiões geladas

Glaciar Torrecillas, na Argentina, conhecido por sua diversidade de fungos. Crédito: littletroll/ Wikimedia

Não é segredo que fungos que sobrevivem a condições extremas de temperatura habitam muitas regiões geladas, como os polos do planeta. Nas grandes geleiras polares, por exemplo, vivem fungos de diferentes tipos. Esses organismos podem ser encontrados em várias profundidades da camada de gelo na Groenlândia e em outras regiões. Grandes populações de fungos já foram detectadas em lagos subglaciais do Ártico, ou seja, presentes no gelo derretido sob uma geleira. Eles também habitam a Antártida, que é considerado o continente mais intocado do planeta. Lá, quase toda a superfície está coberta por gelo e o restante corresponde praticamente a regiões rochosas.

Mesmo neste ambiente extremamente frio (em média -20o°C), seco e pobre em nutrientes e matéria orgânica, é possível encontrar fungos, principalmente vivendo junto de algas em uma associação chamada líquen.

 

Fungos resistentes a condições extremas de radiação

Estação Espacial Internacional. Créditos: Nasa on Unsplash

Além das baixas temperaturas, os fungos que vivem nas regiões polares e de grande altitude também precisam lidar com as intensas radiações que vêm do Sol. E existem espécies vivendo em ambientes ainda mais extremos: já imaginou fungos crescendo nos reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, onde há níveis altíssimos de radiação? Sim, existem!

A resistência à radiação se dá a partir de um pigmento chamado melanina, que além de proteger o fungo, favorece seu crescimento. Por causa dessa característica, fungos com melanina também podem sobreviver em voos espaciais. Esses seres foram encontrados Estação Espacial Russa (Mir). Cientistas inclusive alertam para o perigo dessa descoberta, já que esses fungos podem danificar materiais da espaçonave, além de representarem um risco de contaminação à tripulação, pois muitos dos fungos encontrados podem causar doenças. Por outro lado, existem estudos sobre o uso de certos fungos com melanina como “escudos” para espaçonaves, roupas de astronautas e até mesmo futuras colônias em Marte.

 

Fungos que sobrevivem em ambientes salinos

Salina Sečovlje, na Eslovênia. Créditos: Mihaly Koles on Unsplash

Há ainda fungos que vivem em ambientes com altas concentração de sal. Esses locais são considerados hostis à maioria das formas de vida. Não à toa, o sal é considerado um conservante de alimentos porque impede o crescimento de microrganismos. Porém, fungos adaptados a essas condições são habitantes comuns de ambientes hipersalinos, como as salinas em Porto Rico e na Eslovênia. Existem espécies de fungos, com ou sem melanina, que podem ser encontradas em águas hipersalinas, já que são capazes de se ajustar e tolerar essa condição.

Cientistas apostam que o estudo desses fungos e das características envolvidas na sua adaptação a ambientes extremos podem fornecer pistas fundamentais para desenvolvimento de novos medicamentos e tratamento para várias doenças.

 

Fontes consultadas:

Cantrell AS, Dianese JC, Fell J, Gunde-Cimerman N, Zalar P. Unsual fungal niches. 2011. 103 (6) p. 1161-1174. Acesso em: https://doi.org/10.3852/11-108

Dadachova E, Casadevall A. Ionizing radiation: how fungi cope, adapt, and exploit with the help of melanina. 2008. Current Opinion in Microbiology, 11(6) p. 525-531. Acesso em: https://doi.org/10.1016/j.mib.2008.09.013

Godinho, V.M., Gonçalves, V.N., Santiago, I.F. et al. Diversity and bioprospection of fungal community present in oligotrophic soil of continental Antarctica. Extremophiles. 2015. 19, p. 585–596. Acesso em: https://doi.org/10.1007/s00792-015-0741-6

 

Por Fernanda Fonseca

 

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Data Publicação: 15/09/2022