Na noite de 14 de abril de 1912 um navio afundou ao norte do oceano Atlântico. O nome dessa embarcação era Titanic. Você já deve ter ouvido falar da história desse acidente. Lembra por que o grande navio afundou? Vamos recordar: ele bateu em outro gigante, um gigante gelado, um iceberg.
Os icebergs são blocos de gelo que se desprendem de geleiras existentes em áreas polares do planeta. Por isso, eles são comuns nos chamados oceanos glaciais: no Ártico, ao norte, e no Antártico, ao sul do planeta.
Essas grandes massas de gelo são formadas de água doce, variam em seu tamanho e também em sua forma, podendo ser achatados ou pontiagudos. Sabe aquela expressão que diz “Isso é apenas a ponta do iceberg”? Ela se refere ao fato de que o pedaço que aparece de um iceberg, a ponta que fica fora da água, corresponde apenas a décima parte do seu tamanho.
A formação de um iceberg acontece assim: o movimento das ondas e o calor fazem aparecer rupturas nas geleiras. Os fragmentos que resultam dessas rupturas, como já vimos, são os próprios icebergs, que passam a flutuar pelo oceano. É isso mesmo, flutuar. Agora você deve estar se perguntando: um bloco de gelo gigante e pesado flutuando no oceano? Essa é boa! Isso é meio estranho…
Pois bem, isso acontece porque a densidade da água que forma um iceberg é menor que a densidade da água salgada do mar que o cerca. Na verdade, isto é uma característica do gelo: sua densidade (ou seja, a sua massa dividida pelo volume que ele ocupa) é menor que a da água. A flutuação do iceberg também pode ser explicada pelo Princípio de Arquimedes: “um corpo imerso em um líquido irá flutuar, afundar ou ficar neutro de acordo com o peso do líquido deslocado por este corpo”. Em outras palavras, o peso de todo o líquido que um iceberg desloca é maior que seu peso, o que faz com que ele flutue.
Gelados e pesados, esses gigantes seguem seu caminho flutuando pelos mares. Aos pouquinhos, vão derretendo… Aos pouquinhos? Não mais. Em virtude do que hoje chamamos aquecimento global, ou seja, o aumento brusco da temperatura na superfície da Terra, esse processo de derretimento está acontecendo cada vez mais rápido. Imagina se todo esse gelo virar água em pouco tempo…
Aquecendo icebergs
Em alguns países a água que resulta do derretimento de icebergs é vendida para consumo. As pessoas pagam caro por pequenas garrafas que prometem carregar a água mais pura, água de icebergs. O aquecimento dos blocos de gelo feito por estas indústrias acontece em apenas algumas partes do mundo. Mas existe um outro tipo de aquecimento, um processo maior, que envolve todo o planeta. Trata-se do aquecimento global, resultado do aumento da emissão de gases poluentes que dificultam a dispersão do calor – o chamado Efeito Estufa -, do desmatamento e das queimadas, entre outros fatores.
O processo de aquecimento global provoca, como o próprio nome já diz, o aumento do calor na Terra. Aumentando o calor, as geleiras se partem mais facilmente. Mais geleiras fragmentadas, mais icebergs. Concluindo: o calor faz crescer o número de icebergs e, ao mesmo tempo, faz com que estes icebergs derretam mais rápido.
Existem duas graves consequências desse mecanismo. A primeira delas diz respeito à vida de animais que habitam as regiões polares, como pinguins e ursos, os quais têm seu ambiente prejudicado em virtude da quebra das geleiras. Quando um iceberg se forma pode acontecer, por exemplo, de animais serem separados de outros e ficarem longe de seu alimento. Afastados de seu grupo e de comida, muitos não resistem.
Outro resultado preocupante do derretimento de geleiras é o aumento do nível da água dos oceanos. É isso que cientistas preveem que acontecerá caso o derretimento das calotas polares continue de forma tão veloz: a água dos oceanos pode invadir regiões costeiras e algumas cidades podem chegar a ser totalmente inundadas. Este desastre poderia provocar também a extinção de espécies de animais e vegetais.
Esses gigantes gelados, que parecem distantes, podem interferir em nossas vidas, na vida do planeta. Muito mais que imaginamos. E nós também podemos interferir na formação desses gigantes flutuantes e na qualidade da vida em toda a Terra. Muito mais que imaginamos.
Consultoria: Miguel de Oliveira, biólogo / Museu da Vida (Fiocruz).
Data Publicação: 29/11/2021