Fig 1. Pinturas feitas em cavernas e rochas antes da invenção da escrita são alguns dos vestígios encontrados em sítios arqueológicos. Crédito: Caboclin/iStock

 

Vestígios da ocupação humana no passado são encontrados em sítios arqueológicos de todo o Brasil

Atualmente, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Brasil possui mais de 26 mil sítios arqueológicos cadastrados. Muitos deles podem ser visitados.

Os ancestrais do ser humano moderno estiveram por aqui, ou melhor, na África, há aproximadamente 7 milhões de anos. Já a nossa espécie, Homo sapiens, é bem mais recente. Começamos a viver na Terra somente há cerca de 200 mil anos. E, até sair do continente africano, foram mais 100 mil anos. Já a nossa região, a América, foi a última a ser povoada pelo ser humano. E como sabemos disso? Graças a um somatório de esforços que inclui estudos genéticos, registros fósseis e vestígios da ocupação humana identificados nos chamados sítios arqueológicos.

Além de ferramentas importantes para a datação da presença humana na Terra, os sítios arqueológicos ajudam a contar a história de diferentes povos. São, portanto, elementos essenciais para a preservação da cultura, da memória e da identidade das várias populações que nos precederam.

Conheça abaixo cinco sítios arqueológicos brasileiros que são importantes fontes de conhecimento, mas também não deixam nada a desejar no quesito beleza natural!

 

1) Parque Nacional da Serra da Capivara (PI)

 

Fig 2. Pedra Furada no Parque Nacional da Serra da Capivara. Crédito: Artur Warchavchik/Wikimedia Commons

 

Localizado no estado do Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 1979, justamente para preservar vestígios arqueológicos do ser humano na América do Sul.

O local, que está inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), possui cerca de 400 sítios arqueológicos, a maior concentração das Américas. Também contém os registros mais antigos desse continente (até 50 mil anos atrás).

 

Fig 3. Pinturas em gruta na Serra da Capivara representando a interação de seres humanos e a fauna, entre outros elementos. Crédito: autor desconhecido/Wikimedia Common

 

Por lá, podemos encontrar artefatos feitos de pedra, esqueletos humanos e muitas pinturas rupestres, ou seja, arte produzida por seres humanos antes da criação da escrita. As pinturas estão registradas em paredes de cavernas e em utensílios domésticos.

 

Saiba mais sobre pinturas rupestres:
Arte das cavernas

 

 

2) Parque Arqueológico do Solstício (AP)

 

Fig 4. Blocos de pedra dispostos em círculo no Parque Arqueológico do Solstício. Crédito: Governo do Amapá/Wikimedia Commons

 

Da Região Nordeste, passamos agora para a Região Norte do Brasil, mais precisamente, para o município de Calçoene, no estado do Amapá. A região abriga um sítio megalítico, isto é, uma área que reúne centenas de blocos de granito dispostos em formato circular no topo de uma colina.

A estrutura ocupa uma área de 30 m de diâmetro. Os arqueólogos estimam que o sítio tenha entre 500 e 2 mil anos de idade.

 

Fig 5. Pedras do Parque Arqueológico do Solstício estão posicionadas com inclinação que permite o alinhamento preciso com fenômenos astronômicos. Crédito: Leandroisola/Wikimedia Commons

 

A curiosa formação parece ter sido um centro de observação astronômico construído por indígenas. E uma pedra em especial chama atenção, pois está alinhada ao solstício de inverno no hemisfério norte, ou seja, um fenômeno que marca o início desta estação na Europa, Ásia, América do Norte, América Central e em parte da América do Sul e da África.

O local é chamado de ‘Stonehenge do Amapá’ ou ‘Stonehenge da Amazônia’, em referência ao sítio de Stonehenge, na Inglaterra, que também possui círculos de pedras.

O sítio megalítico brasileiro guarda ainda resquícios no solo, tais como vasilhas cerâmicas, instrumentos feitos com pedra e urnas funerárias, o que sugere que o local também era usado em rituais.

 

Saiba mais sobre solstício:
Solstício de junho: inverno no Sul, verão no Norte

 

 

3) Sítio Arqueológico Santa Elina (MT)

 

Fig 6. O Sítio Santa Elina está localizado em uma região de rochas ‘dobradas’. Com esta formação, cria-se um abrigo, isto é, uma área entre rochas que fica protegida da chuva. Isso contribui para a preservação dos materiais depositados no local. Crédito: Ileticiachaves/iStock

 

Chegamos à Região Centro-Oeste do país, particularmente, ao município de Jangada, na Serra das Araras, Mato Grosso. O local abriga o Sítio Arqueológico Santa Elina, o segundo mais antigo do Brasil.

Por 20 anos, pesquisadores brasileiros e franceses investigaram o local. Entre os vários achados, estão cerca de mil pinturas rupestres e mais de 25 mil artefatos, com destaque para ossos de preguiça-gigante (gênero Glossotherium), extinta há 10 mil anos.

Existem inclusive adornos, por exemplo, colares e braçadeiras, feitos com ossos desses animais, o que indica que o ser humano coexistiu com preguiças-gigantes no local há cerca de 25 mil anos.

 

Fig 7. Pingentes feitos com osteodermes, ou seja, placas ósseas que ficam na pele de preguiças-gigantes, encontrados em Santa Elina. Crédito: Jean-Pierre Kauffmann -MNHN (1997) (osteoderme com escala) e Ader Gotardo -MAE/USP (2012).

 

4) Sítio Arqueológico do Cais do Valongo (RJ)

 

Fig 8. Mais de 1 milhão de africanos escravizados desembarcaram no Cais do Valongo entre os séculos 18 e 19. Crédito: Donatas Dabravolskas/iStock

 

O destino agora é o Rio de Janeiro, na Região Sudeste do país. Em 2011, durante obras de revitalização urbana na Região Portuária da cidade do Rio, foram descobertos resquícios do principal cais de desembarque de africanos escravizados das Américas. O local foi desativado em 1831 e, posteriormente, passou por processos de aterramento ao longo do tempo.

No sítio arqueológico, foram encontrados muitos objetos, entre eles, botões feitos com ossos, amuletos, pulseiras em piaçava, jogos de búzios e outras peças usadas em rituais religiosos. A coleção possui 1,2 milhão de peças que, além do simbolismo religioso, resgatam o cotidiano e a diversidade de culturas africanas das muitas pessoas que viveram na região.

 

Fig 9. Achados do Cais do Valongo durante exposição no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), no Rio de Janeiro. Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Em 2012, o espaço foi transformado em monumento preservado e aberto à visitação pública e passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana. No ano seguinte, foi considerado Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro. E, em 2017, foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco.

 

5) Sambaquis de Laguna e Jaguaruna (SC)

 

Fig 10. Sambaqui do Sítio Arqueológico de Garopaba do Sul, localizado em Jaguaruna, Santa Catarina, registrado por Alexandro Demathé. Crédito: SapienzaArqueologia/Wikipédia

 

Você já ouviu falar em sambaquis? São montes construídos por povos que habitaram o nosso litoral antigamente. Eles reúnem diferentes materiais, principalmente, conchas de moluscos. Mas essas estruturas guardam também vestígios ósseos de animais, resquícios de vegetais, ferramentas, entre outros elementos.

Os sambaquis são fontes importantes de estudo. Eles permitem conhecer mais sobre esses povos, seus hábitos e sua cultura. E, até mesmo, sobre rituais de sepultamento, pois alguns grupos utilizavam essas elevações com esta finalidade.

As cidades de Laguna e Jaguaruna, em Santa Catarina, na Região Sul do Brasil, abrigam dezenas de sambaquis. Alguns deles estão entre os mais antigos e altos do mundo.

 

Fig 11. Entre os objetos encontrados em sambaquis de Santa Catarina estão os zoólitos, peças esculpidas em pedra com aparência de animais. Na imagem, zoólitos da exposição no Museu Homem do Sambaqui, localizado no município de Florianópolis (SC). Crédito: Isabel Rodrigues Pereira/Wikimedia Commons

 

O sítio arqueológico de Garopaba do Sul, em Jaguaruna, por exemplo, possui um sambaqui que já alcançou 30 m de altura e que foi construído 3,7 mil anos atrás.

Outro exemplo da região é o sambaqui de Cabeçuda, em Laguna (SC). Ele já teve mais de 20 metros de altura e os achados, tal como ossos humanos, carvão, cinzas e ossos de peixes, aves e pequenos mamíferos, indicam que eram realizadas cerimônias fúnebres no local.

 

Você conhece algum outro sítio arqueológico? Se encontrar algum vestígio antigo na sua casa, faça contato com o IPHAN pelo e-mail faleconosco@iphan.gov.br.

Todos os sítios arqueológicos, mesmo que ainda sejam desconhecidos, são protegidos por lei no país e pertencem ao governo (União).

 

Fontes consultadas:

Reece J et al. Biologia de Campbell. Porto Alegre: Artmed, 2015. 10 ed.

Vieira, Araújo Carla. Hominídeos. InfoEscola. Disponível em: https://www.infoescola.com/mamiferos/hominideos/. Acesso: 26 jun 2024

IPHAN. Fototeca Sítios Arqueológicos. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/fototeca/detalhes/17/fototeca-sitios-arqueologicos#:~:text=S%C3%A3o%20considerados%20s%C3%ADtios%20arqueol%C3%B3gicos%20os,lapas%20e%20abrigos%20sob%20rocha. Acesso: 26 jun 2024

IPHAN. Patrimônio Arqueológico. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1376/#:~:text=O%20Brasil%20possui%20mais%20de,identidade%20cultural%20da%20sociedade%20brasileira. Acesso: 02 jul 24

Adventure Club. Quais são os principais sítios arqueológicos do Brasil? Disponível em: https://www.adventureclub.com.br/blog/quais-sao-os-principais-sitios-arqueologicos-do-brasil/. Publicação: 1º out 2021. Acesso: 02 jul 2024

Blasco, Lucía. BBC News Mundo. Como a genética está reconstruindo a fascinante jornada dos primeiros humanos à América. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-3c7cd43a-42e9-4379-a5f1-a02af109fabf. Publicação: 20 jan 2022. Acesso: 02 jul 2024

IPHAN. Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/42. Acesso: 02 jul 24

Wikipédia. Parque Nacional Serra da Capivara. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_Serra_da_Capivara. Acesso: 02 jul 24

IPHAN. Patrimônio Arqueológico – AP. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/524/. Acesso: 02 jul 24

Figueiredo, Fabiana. G1. Erguido no meio da floresta, ‘Stonehenge da Amazônia’ ainda guarda mistérios para a ciência. Disponível em: https://g1.globo.com/ap/amapa/natureza/amazonia/noticia/2019/12/02/erguido-no-meio-da-floresta-stonehenge-da-amazonia-ainda-guarda-misterios-para-a-ciencia.ghtml. Publicação: 02 dez 19. Acesso: 02 jul 24

IPHAN. Patrimônio Arqueológico – MT. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/624/. Acesso: 02 jul 24

Wikipédia. Abrigo de Santa Elina. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Abrigo_de_Santa_Elina. Acesso: 02 jul 24

ipatrimônio, patrimônio cultural brasileiro (beta). Jangada – Sítio Arqueológico Santa Elina. Disponível em: https://www.ipatrimonio.org/jangada-sitio-arqueologico-santa-elina/#!/map=38329&loc=-15.308566786441792,-56.5216863155365,15. Acesso: 02 jul 24

O Livre. A morte do Santa Elina, principal sítio arqueológico de Mato Grosso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=U7SzG-jKXnE. Publicação: 21 jan 2018. Acesso: 02 jul 24

Vilhena Vialou, Agueda; Vialou, Denis. Manifestações simbólicas em Santa Elina, Mato Grosso, Brasil: representações rupestres, objetos e adornos desde o Pleistoceno ao Holoceno recente.

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 14, n. 2, p. 343-365, maio-ago. 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981.81222019000200006.

Wikipédia. Cais do Valongo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cais_do_Valongo. Acesso: 02 jul 24

IPHAN. Cais do Valongo (RJ). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/818/. Acesso: 02 jul 24

Wikipédia. Sambaqui. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui. Acesso: 02 jul 24

Brasil. Ministério da Cultura. Patrimônio Arqueológico. Disponível em: https://www.gov.br/iphan/pt-br/superintendencias/santa-catarina/patrimonio-arqueologico. Atualização: 10 mar 22. Acesso: 02 jul 24

Gaspar, M., & Klokler, D. M. (2020). Mudanças e permanências no Sambaqui de Cabeçuda (Laguna, SC): das escavações de Castro Faria às questões atuais. Revista De Arqueologia, 33(1), 169–197. https://doi.org/10.24885/sab.v33i1.709

 

Por Teresa Santos

Data Publicação: 17/07/2024