Veja por que o uso de cigarro eletrônico é perigoso e tão prejudicial quanto o cigarro convencional
Dispositivo eletrônico para fumar (DEF), cigarro eletrônico, vaporizador, vape, pod, e-cigarette, e-cigars… Os nomes são muitos, e é provável que já tenha ouvido algum deles. Mas você sabe o que são? Vamos conhecer mais sobre esses produtos e descobrir como eles impactam a nossa saúde.
O cigarro eletrônico surgiU em 2003 e são dispositivos para fumar. Existem vários modelos, mas, em geral, eles funcionam com uma bateria que aquece um líquido, um bastão de tabaco ou ervas secas. Este líquido é composto por várias substâncias, entre elas, água, nicotina, aromatizantes e outros compostos.
Quando a pessoa utiliza o aparelho, inala aerossóis, ou seja, partículas suspensas em um meio gasoso que são geradas pelo aquecimento da solução líquida. E é aí que começa o problema!
Cigarro eletrônico: bonitinho, mas causa dependência
Os cigarros eletrônicos não têm o odor desagradável dos cigarros convencionais. Ao contrário, podem até ter cheiro e sabor bons graças aos aromatizantes, corantes e demais artifícios inseridos pelos fabricantes. Existem milhares de sabores atrativos, entre eles, frutas vermelhas, baunilha, chocolate, menta e tantos outros.
Também podem ter formatos curiosos, divertidos e até ‘fofos’, tal como bichinhos e personagens de desenhos. E, claro, têm um forte apelo tecnológico. Mas não se engane! Tudo isso são atrativos pensados pelos fabricantes para atrair mais e mais pessoas, principalmente, os jovens. Cuidado! Apesar da ‘nova roupagem’, esses produtos fazem tão mal quanto os velhos cigarros convencionais.
Segundo Silvana Rubano Turci, pesquisadora do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Cetab/ENSP/Fiocruz), tanto os cigarros convencionais quanto os eletrônicos oferecem nicotina. “Alguns produtos podem ter concentrações de nicotina tão altas que podem atingir até 1.500 tragadas, por exemplo”, ressaltou a especialista ao InVivo. E aqui cabe uma matemática rápida. Mas, calma! Não é nada muito complicado!
Um cigarro convencional oferece 15 tragadas. Já o maço inteiro, que contém 20 cigarros, corresponde a 300 tragadas. Se um cigarro eletrônico pode ter até 1.500 tragadas, então, ele tem um total de tragadas equivalente a cinco maços de cigarro convencional.
A nicotina é uma droga psicoativa. “Ela chega rapidamente ao cérebro dando ao fumante uma sensação de bem-estar porque libera dopamina (substância que provoca sensação de prazer)”, explica a pesquisadora da ENSP ao Invivo. E, com esse processo, o cérebro acaba ficando ‘dependente’. “O tabagismo é uma doença”, alerta Silvana.
Prejuízos à saúde podem ser variados
Além da dependência, o cigarro eletrônico pode ter muitos outros impactos na saúde, entre eles, danos respiratórios e pulmonares.
Silvana explica que isso significa, por exemplo, que pessoas que têm algumas condições pré-existentes como asma e bronquite, podem ter seus quadros agravados ao ter contato com o vapor dos cigarro eletrônico. Mas além de piorar o que já existe, ele também pode causar outras doenças respiratórias graves e até mesmo um novo agravo que, até então, não havia sido descrito: EVALI.
EVALI é a sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico. Essa é uma doença que foi descrita em 2019 nos Estados Unidos e que está relacionada especificamente ao uso desse produto. O quadro envolve alguns sintomas como tosse, dor no peito e falta de ar. Também podem ocorrer queixas gastrointestinais, como dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia e, ainda, febre, calafrios e perda de peso. Trata-se de uma condição grave e que pode levar à morte. Casos da doença têm sido registrados em vários locais do mundo, inclusive no Brasil.
Além de problemas respiratórios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o cigarro eletrônico também pode causar danos cardiovasculares e potenciais efeitos neurotóxicos, isto é, alterações no sistema nervoso. E, ainda não se sabe completamente, os problemas que esses produtos poderão trazer quando utilizados por muitos anos.
Há ainda que se pensar em outros riscos envolvidos. “Temos que somar a tudo isso à questão de explosão de baterias, porque elas explodem e queimam o rosto e as mãos das pessoas”, lembra Silvana.
O cigarro eletrônico é proibido no Brasil?
O uso do cigarro eletrônico não é proibido no país. Mas, como vimos acima, os danos à saúde são muitos, então, não deveríamos utilizá-los. E, além de todos os contras, existe uma lei que proíbe a venda, a importação e a propaganda desses dispositivos desde 2009. O uso desses produtos em locais coletivos fechados, públicos ou privados, também é proibido no país (RDC n° 46/2009).
Em 2024, houve revisão do tema, porém a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve todas as proibições de 2009 (RDC n° 855/2024).
Apesar das proibições é possível que você esteja ouvindo discussões sobre o tema. De fato, a regulamentação do cigarro eletrônico ainda está em debate no Congresso Nacional graças a um Projeto de Lei de 2023 (PL 5.008/2023). “Existe um grupo de senadores pressionando para que esses produtos sejam liberados. É uma vergonha que a Anvisa esteja sendo questionada do ponto de vista técnico”, lamenta Silvana. Vale destacar que a Anvisa é o órgão nacional com competência técnica para analisar o tema. Esta Agência é responsável pela proteção da população a partir do controle sanitário da produção e consumo de produtos que envolvem riscos à saúde pública.
Fontes consultadas:
Brasil, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Cigarro eletrônico – Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/tabaco/cigarro-eletronico
Associação Médica Brasileira (AMB). Riscos e malefícios dos DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar). Disponível em: https://amb.org.br/cigarro-eletronico-e-cigarro/
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Posicionamento da SBPT sobre os Dispositivos Eletrônicos Para Fumar (DEFs). Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/dispositivos-eletronicos-para-fumar/. Publicação: 05 abr 2022
Brasil, Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF). Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco/politica-nacional/dispositivos-eletronicos-para-fumar-def-1. Atualização: 21 mai 2024
G1. Fantástico. Cigarro eletrônico: ‘Estamos criando uma legião de dependentes de nicotina’, diz Drauzio Varella. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/06/05/cigarro-eletronico-estamos-criando-uma-legiao-de-dependentes-de-nicotina-diz-drauzio-varella.ghtml. Publicação: 06 jun 2022
Brasil, Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Folder Campanha não se deixe enganar pelas novidades. Dispositivos eletrônicos para fumar também matam. Disponível: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/folder-campanha-nao-se-deixe-enganar-pelas-novidades-dispositivo-eletronico-para-fumar-tambem-matam_1.pdf
Fiocruz, ENSP. Observatório das Estratégias da Indústria do Tabaco. Disponível em: https://tabaco.ensp.fiocruz.br/pt-br
Tunes, Suzel. Revista Fapesp. Cigarro eletrônico causa doença pulmonar denominada Evali. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/cigarro-eletronico-causa-doenca-pulmonar-denominada-evali. Edição 319, set 2022.
Agência Fiocruz de Notícias. Fiocruz envia carta ao Senado sobre os riscos da liberação de dispositivos eletrônicos para fumar. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-envia-carta-ao-senado-sobre-os-riscos-da-liberacao-de-dispositivos-eletronicos-para-fumar. Publicação: 20 ago 2024.
*Todos os conteúdos foram acessados em 23 de agosto de 2024.
Por Teresa Santos
Data Publicação: 28/08/2024
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