Fig 1. Insetos que transmitem a Febre Oropouche. À esquerda, Culicoides paraensis, à direita, Culex quinquefasciatus. Crédito: Bruna Lais Sena do Nascimento, Laboratório de Entomologia Médica/SEARB/IEC

 

Conheça um pouco mais sobre a febre oropouche, doença que tem se espalhado pelo Brasil

A febre oropouche não é uma doença nova. Ela existe na região amazônica desde a década de 1960, causando surtos e casos isolados em estados na Região Norte e países da América Central e do Sul. Porém, em 2024, a doença ganhou as manchetes em diversas notícias no país por causa do aumento do número de casos. Por que isso aconteceu? O que pode ser feito para prevenir esta doença? Veja a seguir algumas perguntas e respostas sobre o assunto.

 

O que é a febre oropouche?

É uma doença causada pelo vírus Oropouche (OROV). O nome vem do Rio Oropouche, em Trinidad e Tobago, onde o vírus foi detectado pela primeira vez, em 1955.

 

Fig 2. Ilustração do vírus Oropouche (OROV). Crédito: CIPhotos/iStock

 

Como a febre oropouche é transmitida?

O vírus Oropouche é transmito principalmente pela picada de um pequeno inseto conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora (Culicoides paraensis). Há pesquisas que mostram que o pernilongo comum, conhecido por muriçoca (Culex quinquefasciatus), também pode transmitir a doença, mas isso é bem menos frequente. O mosquito transmissor da dengue (Aedes aegypti) não transmite a febre oropouche.

Em áreas silvestres, o vírus Oropouche infecta bichos-preguiça, roedores e macacos. Os insetos adquirem o vírus ao picar um animal contaminado e o transmitem para outros animais ou pessoas que entram na floresta. Nas áreas urbanas, o principal hospedeiro é o ser humano.

Quando a fêmea do maruim pica um animal ou uma pessoa contaminada, o vírus fica alojado em seu corpo por alguns dias. Ao picar uma pessoa saudável, o vírus é transmitido para ela. Ou seja, a doença não passa diretamente de uma pessoa para outra. Porém, em julho de 2024, o Brasil detectou possíveis casos em que o vírus foi transmitido da mãe para o feto durante a gravidez.

Quais são os sintomas da febre oropouche?

A febre oropouche causa sintomas parecidos com o de outras doenças virais, como a dengue. Por isso, o diagnóstico inclui também exames de laboratório e informações sobre a quantidade de casos na vizinhança. A Fiocruz Amazônia desenvolveu o teste atualmente usado para detecção do vírus.

Os sintomas começam a aparecer entre 4 e 8 dias depois da picada da fêmea do maruim contaminada. Os mais comuns são:

– Febre

– Dor de cabeça

– Rigidez nas articulações

– Dor no corpo

Pessoas com febre oropouche também podem sentir sensibilidade à luz (fotofobia) e apresentar visão dupla (diplopia), náuseas e vômitos. Em casos raros, quando a doença se agrava, pode causar um tipo de meningite. Isso acontece geralmente quando o doente já tem a imunidade comprometida.

Geralmente, os sintomas duram entre 3 e 6 dias. Em parte dos casos, a pessoa se sente melhor e, após alguns dias, os sintomas reaparecem. Mesmo assim, até 25 de julho de 2024, não havia registros de morte pela doença. Nesta data, o Brasil comunicou a morte de duas pessoas.

 

Como é o tratamento para a febre oropouche?

Até o momento, não há remédios ou vacinas específicos para o vírus Oropouche. O tratamento é feito com repouso, ingestão de líquidos e medicamentos para reduzir a dor e a febre.

 

Por que o número de casos aumentou em 2024?

A febre Oropouche circula na região amazônica há décadas. Em 2023, foram identificados casos em quatro estados da Região Norte. Em meados de 2024, a doença já havia chegado a 21 estados. Além disso, o número de casos registrados aumentou bastante: foram 7 mil até 28 de julho contra menos de 850 no ano inteiro de 2023. Dentre as doenças causadas por vírus e transmitidas por artrópodes (como insetos e carrapatos), é a segunda com mais casos, ficando atrás apenas da dengue.

Mas por que isso aconteceu? Os pesquisadores têm duas respostas possíveis. A primeira é que o vírus OROV esteja se espalhando pelo país. O deslocamento de pessoas e as alterações do clima (como aumento da temperatura e mudança no regime de chuvas) contribuem para isso.

A segunda resposta tem a ver com o monitoramento da doença. A Fiocruz Amazônia desenvolveu um protocolo de diagnóstico que foi adotado pelo Ministério da Saúde em Laboratórios Centrais de Saúde Pública de todos os estados do país. O método também foi usado pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) em outros países da América Latina. Em outras palavras, mais pessoas fizeram o teste de laboratório para febre oropouche.

 

Como prevenir a febre oropouche?

Algumas atitudes ajudam a evitar picadas de maruins.

As fêmeas colocam seus ovos em locais úmidos com muita matéria orgânica em decomposição, como restos de plantas e fezes de animais. Recolher folhas e frutos que caem no solo e limpar quintais e terrenos é uma maneira de combater o mosquito que transmite a doença.

Por seu pequeno tamanho (cerca de 1,5 mm), os maruins podem passar através das redes comuns para mosquitos. Por isso, é preciso usar rede de malha fina para cobrir portas, janelas ou camas. Outras medidas de prevenção são usar roupas que cubram pernas e braços e sapatos fechados.

Além das medidas de prevenção individuais, a OPAS recomenda que os países afetados reforcem a vigilância epidemiológica e tomem medidas para o controle dos vetores, isto é, dos insetos que transmitem a doença.

 

Saiba mais:

Verdades e mentiras sobre a dengue

 

Fontes consultadas:

Menezes, Maíra. Agência Fiocruz de Notícias. Especialistas detalham características do ‘Culicoides paraensis‘, o mosquito-pólvora. Publicação: 09 ago 2024. Disponível em: bit.ly/3yyMuxM.

Lins, Júlia. Fiocruz Bahia. Instituto Gonçalo Moniz. Oropouche: estabelecimento do vírus é provável já que vetor está presente em todo o Brasil, aponta pesquisador. Publicação: 06 jun 2024. Disponível em: https://www.bahia.fiocruz.br/oropouche-estabelecimento-do-virus-e-claro-ja-que-vetor-esta-presente-em-todo-o-brasil-aponta-pesquisador/.

Pedrosa, Júlio. Fiocruz Amazônia. Fiocruz vira referência em protocolo de detecção do vírus Oropouche. Publicação: 29 ago 2023. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-vira-referencia-em-protocolo-de-deteccao-do-virus-oropouche

Brasil, Ministério da Saúde. Febre do Oropouche. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/oropouche.

OPAS. Perguntas e respostas sobre o vírus Oropouche. Publicação: 24 jul 2024. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/24-7-2024-perguntas-e-respostas-sobre-virus-oropouche

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PEREIRA, C. dos S.; PICANÇO, M. R. S.; VALE, G. P. do; OLIVEIRA, C. S. de; AMORIM, F. A. S. de; COSTA, F. da S.; PEREIRA, M. T. dos S. Epidemiologia, diagnóstico e tratamento da febre de Oropouche no Brasil: revisão de literatura/ Epidemiology, Diagnosis and Treatment of Oropouche Fever in Brazil: A Literature Review. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 6, p. 23912–23920, 2021. DOI: 10.34119/bjhrv4n6-023. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/39040.

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Sakkas H, Bozidis P, Franks A, Papadopoulou C. Oropouche Fever: A Review. Viruses. 2018 Apr 4;10(4):175. doi: 10.3390/v10040175. PMID: 29617280; PMCID: PMC5923469.

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Por Tereza Costa

Data Publicação: 19/08/2024