Seja no ar, no mar, no solo ou no nosso próprio corpo, os fungos estão espalhados por toda parte. Eles são essenciais para o ambiente, além de serem queridinhos nas indústrias têxtil, alimentícia, farmacêutica, dentre outras.  Como nem tudo são flores, a relação entre pessoas e fungos nem sempre é harmoniosa.

Algumas espécies desses microrganismos são capazes de infectar os seres humanos, causando doenças que podem ser simples ou graves. As micoses, como são chamadas as doenças fúngicas, são bastante comuns. Infecções de pele e unha estão entre as mais frequentes e afetam até 25% da população mundial.

Você já ouviu falar em pano branco ou micose de praia? É o nome popular de uma micose chamada ptiríase versicolor. Ela provoca manchas arredondadas de cor branca, avermelhada ou marrom, frequentemente encontradas nas costas, abdômen e até no rosto (figura 1). Essa doença não é contagiosa e nem se contrai na praia, mas fica mais evidente com a pele bronzeada. O fungo que causa essa micose vive naturalmente na camada mais superficial da pele humana. Porém, em algumas pessoas ele cresce formando as tais manchas, especialmente no período do verão, quando a oleosidade da pele aumenta.

Figura 1. Manchas esbranquiçadas (foto à esquerda) e avermelhadas (foto à direita) na pele causadas pela micose ptiríase versicolor. Crédito: Sarahrosenau/Wikimedia; Dermapixel/Wikimedia.

 

Já os fungos chamados dermatófitos causam doenças contagiosas, isto é, que passam de uma pessoa para outra. Entre as micoses mais comuns, estão as frieiras, como o pé-de-atleta. Essa infecção é comum nas dobras dos dedos e na planta dos pés, causando coceira, vermelhidão e descamação da pele (figura 2).

Os fungos dermatófitos também podem infectar a parte debaixo das unhas dos pés e das mãos. Eles são tão comuns que, se você ainda não teve, é provável que conheça quem tenha. Normalmente, são mais frequentes nas unhas dos pés, já que os fungos adoram o ambiente úmido e quente dentro sapatos. Fique atento, pois uma das formas de transmissão é o compartilhamento de lixas de unhas, alicates e tesouras contaminados. Portanto, se você vai à manicure, não deixe de levar seu material ou, então, verifique se os objetos são esterilizados.

Figura 2. Enxugar bem o espaço entre os dedos ajuda a evitar frieiras. Também é importante examinar os pés para verificar se existe descamação na pele. Crédito: BruceBlaus/Wikimedia (adaptado por Invivo)

Também não se engane com dicas milagrosas e métodos caseiros que não têm comprovação científica e não são capazes de curar. O tratamento da micose de unha (ou onicomicose) é longo e deve ser orientado por um médico. Então, se você está com unhas amarelas, escuras, opacas, grossas ou ocas, não vacile! Procure um médico para investigar, tratar e ter de volta unhas saudáveis.

Figura 3. Evite compartilhar lixas de unha e outros objetos de manicure. Crédito: Marco Verch/Flickr

 

Além da pele e unhas, os fungos também podem infectar as mucosas, isto é, o revestimento da boca e de outras cavidades úmidas do corpo. Um exemplo é o sapinho (ou candidíase oral), que causa placas esbranquiçadas ou lesões avermelhadas na boca de bebês. Essa micose incômoda, mas de fácil tratamento, é mais comum em pessoas com o sistema imunológico ainda imaturo, como os bebês, ou comprometido por uma doença ou pelo uso de algum medicamento.

Aliás, as infecções fúngicas são mais frequentes e severas em pessoas que já apresentam doenças graves ou crônicas, como diabetes, aids e câncer. Curiosamente, os avanços da medicina moderna como o tratamento do câncer, transplante de órgãos, medicina neonatal, terapias de doenças autoimunes, cuidados intensivos e cirurgias sofisticadas, também são fatores de risco que tornam pacientes mais vulneráveis às infecções fúngicas. Ou seja, as doenças causadas por fungos podem ser consideradas oportunistas.

Um exemplo bem atual foi o aumento drástico de casos de murcomicose em 2021, principalmente na Índia. Condições como diabetes não controlado, o uso excessivo de corticoides e a longa internação em UTI estão entre os principais fatores de risco que tornavam as pessoas com Covid-19 ainda mais vulneráveis. Um sintoma característico dessa doença é o aspecto escurecido das regiões afetadas causado pelo suprimento de sangue insuficiente; daí a expressão fungo negro. Apesar de ter chamado a atenção da mídia, a murcomicose é apenas um exemplo de doenças fúngicas que são extremamente frequentes e fatais em todo o mundo. Inclusive, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos vem alertando os profissionais da saúde sobre infecções por Candida auris, um fungo multirresistente a maioria dos antifúngicos e que vem causando doença com altos índices de morte e rápida transmissão principalmente em pacientes hospitalizados. Esse fungo vem sendo chamado até de “super fungo”.

O diagnóstico precoce de uma doença fúngica é fundamental no aumento da chance de cura. Porém, em alguns casos, a micose pode ser confundida com outras doenças, inclusive causadas por bactérias e vírus. Portanto, quanto mais informações tivermos sobre os sinais e sintomas, mais fácil podemos ajudar a reconhecer o que está errado conosco.

Para saber mais sobre micoses, você também pode dar uma olhada nesta matéria: http://www.invivo.fiocruz.br/saude/vem-chegando-o-verao/. Fica a dica!

 

Referências:

https://www.cdc.gov/fungal/index.html

https://gaffi.org

MUNHOZ, S. D. et al. Rhino-orbito-cerebral mucormycosis caused by Rhizopus microsporus var. microsporus in a diabetic patient with COVID-19. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 97, n. 4, p. 501–504, jul. 2022.

ZAITZ, C.; CAMPBELL, I.; MARQUES, S., A.; RUIZ, L. R. B.; FRAMIL, V. M. S. Compêndio de micologia médica. 2a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2010

 

Por Fernanda Fonseca

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Data Publicação: 14/12/2022