Você sabe o que é sinestesia? Como será que a sinestesia acontece?
Sinestesia: você sabe o que é isso? Podemos começar dizendo que o cérebro é mesmo um órgão extraordinário. É ele o responsável por receber, processar e interpretar as informações do ambiente detectadas e enviadas pelos órgãos sensoriais, como o olho e a orelha, por exemplo. Antes de chegar ao cérebro, toda informação é transformada por esses órgãos em sinais elétricos denominados impulsos nervosos. Esses impulsos viajam, então, pelos nervos que ligam os órgãos sensoriais ao cérebro.
As diferentes partes do cérebro recebem e interpretam informações vindas de órgãos sensoriais diferentes. Assim, as informações visuais são interpretadas na área considerada o centro da visão, enquanto as informações auditivas são interpretadas na área considerada o centro da audição. Isso é o que acontece no cérebro da maioria das pessoas, mas curiosamente existem exceções.
No cérebro de cerca de 4% da população mundial, há um cruzamento entre essas rotas, o que causa uma mistura sensorial entre a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. Isso faz com que essas pessoas, chamadas sinestetas, ouçam cores, vejam sons, provem números, cheirem palavras e até tenham sensações gustativas ao tocar um objeto. Esse distúrbio neurológico onde ocorrem experiências sensoriais cruzadas, ficou conhecido como sinestesia (Grego, syn = juntos + aisthesis = percepção).
Ouvir cores
Mas o que significa “ouvir cores”? Quando um sinesteta ouve um som, que é um estímulo sonoro, ele vê também uma cor. Por exemplo, no poema a seguir, de 1883, o poeta e sinesteta francês Arthur Rimbaud informa aos leitores como via algumas letras: “A preto, E branco, I vermelho, U verde, O azul: vogais […]”.
Existem pelo menos 60 variantes conhecidas de sinestesia. Sentir os dias da semana como coloridos é a manifestação mais frequente de sinestesia, seguido por ver letras, numerais e sinais de pontuação coloridos, mesmo que sejam impressos em preto. Ter um tipo de sinestesia, como audição colorida, oferece 50% de chance de ter um segundo, terceiro ou quarto tipo. Enquanto os grafemas (símbolos escritos) tendem a induzir a sensação de cores, as unidades sonoras da linguagem, chamadas fonemas, desencadeiam principalmente gostos sinestésicos.
Pesquisadores descobriram que a sinestesia é uma condição hereditária e que se manifesta desde o nascimento, pois há famílias em que ela é frequente. Os genes responsáveis, bem como o seu mecanismo de atuação no organismo, ainda não são conhecidos, embora saibamos que eles estão localizados em cromossomos diferentes que não incluem os cromossomos sexuais, ou seja, X e Y. Eles também descobriram que ela é involuntária, pois não pode ser escolhida ou mudada.
Passado e presente
Embora as experiências sinestésicas tenham sido documentadas desde o ano de 1800, foi apenas nas últimas décadas que a autenticidade delas foi explorada em profundidade, assim como suas possíveis causas. Houve épocas em que as pessoas que apresentavam essas experiências sensoriais cruzadas eram consideradas loucas, em busca de atenção, viciadas em drogas ou mentirosas. Também se achava que os sinestetas poderiam estar apenas se lembrando de associações feitas na infância, ao ver figuras de letras ou número coloridos, por exemplo.
Hoje, com base no conhecimento acumulado sobre a anatomia neuronal humana, os cientistas dizem que os sinestetas não são pessoas doentes, mas, sim, portadores de uma característica que, embora rara, é igual a outra característica qualquer, como a cor dos olhos ou do cabelo. Portanto, essas pessoas não estão doentes nem sob efeito de drogas, são simplesmente sinestésicas.
Fontes consultadas:
Richard E. Cytowic – Synesthesia. Cambridge, MA: MIT Press, 2018.
Richard E. Cytowic – The Man Who Tasted Shapes. Cambridge, MA: MIT Press, 1998.
Por Edmilson Barcellos
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Data Publicação: 30/03/2022
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