Por: Juliana Rocha
Tailândia, Vietnã, influenza, H5N1… Estas palavras parecem familiares? Você com certeza já as leu em algum jornal ou ouviu em programas na TV há bem pouco tempo. Mas por que essas palavras estavam lá? Sobre o que falavam estas reportagens? Pois é, todas traziam novidades sobre a chamada gripe do frango ou gripe aviária.
A gripe aviária é uma infecção causada por uma das variantes do vírus influenza A (FLU A), que compõe junto aos vírus influenza B (FLU B) e influenza C (FLU C) a tríade de agentes infecciosos da gripe. A variante denominada H5N1 foi registrada pela primeira vez na Ásia em 1997. Sua origem está ligada a mutações sofridas por outras variantes do FLU A durante uma infecção conjunta em aves domésticas.

Criação de aves na Ásia. Marco Lambertini/BirdLife.
A rápida disseminação do H5N1 entre as criações de frango dos países do sudeste asiático, da China e da Rússia se deve principalmente às técnicas de criação adotadas nestas regiões. Os criadouros localizados nestes países têm um grande número de aves por metro quadrado e pouco controle em relação a doenças, o que facilita o contato com excrementos e outras secreções contaminadas por meio das quais os vírus são transmitidos entre as aves.
A distribuição dessa variante viral por outros continentes também está relacionada às práticas de criação próprias da Ásia: lá, os frangos costumam se misturar às aves silvestres, e isto pode ter levado à contaminação de espécies migratórias que se encarregaram de levar a variante para a Europa.
Gripe aviária no Brasil
E para o Brasil? As aves migratórias podem trazer o H5N1 para cá? Esta possibilidade está praticamente descartada pelas autoridades sanitárias nacionais, já que as aves que migram para o Brasil circulam somente nas Américas, não tendo rotas pela Ásia ou pela Europa. Outra possibilidade descartada é a importação de aves: o Brasil não compra, mas, sim, vende aves para outros países.

Registros de gripe aviária em humanos. Dados da WHO.
Apesar da sua alta patogenicidade – capacidade de causar doenças – entre as aves domésticas, o H5N1 ainda não está completamente adaptado ao organismo humano. Todas as pessoas contaminadas por esta variante do FLU A tiveram contato direto com aves vivas e seus excrementos ou com aves recém abatidas e não foram capazes de transmitir o vírus para outros indivíduos. Para que o H5N1 possa ser transmitido de pessoa para pessoa é preciso que sofra mais alterações em sua estrutura. Embora possível e esperada, esta mudança pode simplesmente não acontecer.
Como medida preventiva, muitos países têm comprados remédios, aumentando seus estoques para o caso de uma mudança no H5N1 gerar uma pandemia. No Brasil, por exemplo, além da compra de medicamentos e investimentos no Instituto Butantã para a produção de uma vacina contra a variante, estão sendo instaladas unidades sentinelas desde 2000. As unidades sentinelas são hospitais, postos de saúde e policlínicas que recebem treinamento e equipamentos do Ministério da Saúde para coletar secreções nasais e da faringe de pessoas com sintomas de gripe, a fim de verificar quais vírus estão presentes em determinada região e, a partir daí, traçar estratégias mais eficientes de vacinação e de distribuição de remédios.
A Fundação Oswaldo Cruz também tem um papel importante na vigilância dos tipos de vírus influenza em circulação no país. O Laboratório de Doenças Respiratórias e do Sarampo, no Rio de Janeiro, e os centros regionais da instituição trabalham com métodos moleculares de detecção das variantes virais.
Se até agora só se registrou contaminação de humanos por meio do contato com frangos vivos ou recém abatidos, é seguro comer a carne e os ovos das aves? Se estiverem cozidos, é sim, pois o cozimento destrói qualquer vírus que possa ter se mantido viável em secreções, sobre as cascas dos ovos ou sobre a pele do animal.
Data Publicação: 17/01/2022