Fig 1. Tem coisa melhor que um feijão tipicamente brasileiro? Opa! Mas quem disse que o feijão é originário do Brasil?! Crédito: Getty Images

 

Você sabia que algumas plantas, frutas e grãos que consumimos com frequência no país não são brasileiros?

Se tem uma coisa que brasileiro faz bem, é transformar ingredientes em afeto. É o bolo de milho no café da tarde, o cuscuz no café da manhã, a canjica nas festas juninas. Mas e se a gente te contar que muitos desses sabores tão presentes na nossa rotina não são surgiram aqui? Nem todos os alimentos que parecem brasileiros, são, de fato, originários do Brasil!

A globalização dos alimentos, isto é, o compartilhamento de alimentos e de práticas alimentares é uma história antiga! Esse processo é muito anterior aos alimentos industrializados, como fast food. Tempos atrás, na época das grandes navegações (séculos 15 a 16), as pessoas já trocavam sementes, mudas e sabores entre os continentes.

O resultado é que hoje a gente ‘jura’ que alguns ingredientes são nativos do Brasil, quando, na verdade, vieram de outras terras tropicais (ou nem tão tropicais assim!). Vamos conhecer cinco exemplos curiosos de alimentos que parecem, mas não são brasileiros!

 

1. Banana (Musa spp.)

 

Fig 2. As bananas são usadas em várias receitas brasileiras e são facilmente encontradas no comércio. Crédito: Getty Images

 

A banana é uma figurinha frequente nas fruteiras da casa dos brasileiros. Também é o ingrediente de muitos pratos salgados como moquecas e saladas e doces, bolos e tortas. Ela é considerada quase ‘patrimônio afetivo nacional’. Mas você sabia que suas origens são do outro lado do mundo? Sim, da Ásia!

A banana foi trazida para cá pelos portugueses durante o período colonial (1500-1822). Ela adaptou-se lindamente ao clima e hoje é uma das frutas mais consumidas no Brasil — inclusive, em número de espécies, somos um dos países mais ricos do mundo!

 

2. Manga (Mangifera indica L.)

 

Fig 3. O Brasil possui vários tipos de manga, entre eles, manga Rosa, Espada, Carlotinha… Mas a manga também não é uma fruta nacional. Crédito: Getty Images

 

Quem nunca se ‘lambuzou’ com uma manga bem madura, que atire a primeira fibra! A fruta é símbolo de verão e de infância em muitos lugares do Brasil. Mas, originalmente, ela também é da Ásia.

A manga foi adaptada para a agricultura há milhares de anos na Índia e chegou às Américas pelos colonizadores europeus. Aqui, caiu no gosto do povo e virou árvore de quintal e de calçada.

 

3. Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)

 

Fig 4. Cultivo de cana-de-açúcar em fazenda rural. Crédito: Getty Images

 

Ela movimentou ciclos econômicos, ergueu engenhos e também alimenta uma paixão nacional: o caldo de cana. Apesar do protagonismo na história do Brasil, a cana-de-açúcar tem origem no sul da Ásia e na Nova Guiné, no continente oceânico.

Sua trajetória por aqui está ligada à colonização portuguesa e ao sistema escravocrata. Até hoje, seguimos como um dos maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar.

 

4. Milho (Zea mays)

 

Fig 5. O milho é bom cozido com manteiga, mas também é ingrediente da pamonha, de bolos e até da galinhada! Crédito: Getty Images

 

O milho talvez seja o alimento ‘mais quase brasileiro’ da lista, porque realmente é nativo do continente americano. Mas a planta tem suas raízes mais ao norte: na América Central. Ela passou a ser cultivada há mais de 7 mil anos no atual território do México.

Chegou ao Brasil pelas migrações indígenas e se espalhou rápido — hoje, é base de inúmeras receitas regionais, de Norte a Sul do país.

 

5. Feijão (Phaseolus vulgaris L.)

 

Fig 6. O feijão é uma das paixões nacionais e está presente diariamente nos pratos dos brasileiros. Crédito: Getty Images

 

Nosso famoso arroz com feijão parece tão nacional quanto o samba, só que não! O feijão comum também vem das Américas do Sul e Central, particularmente do Peru e do México.

Assim como o milho, chegou por rotas indígenas e se estabeleceu como protagonista da culinária brasileira. Aqui, ele ganhou cores, nomes e modos de preparo diferentes: feijão preto no Rio de Janeiro, carioquinha em São Paulo, feijão verde na região Nordeste.

 

No fim das contas…

O Brasil é feito de misturas — de pessoas, histórias e sabores. E essa diversidade é o que dá o tempero a nossa cultura alimentar. Importamos sementes, mas plantamos com tanto cuidado que elas floresceram com sotaque próprio. Se os alimentos não nasceram aqui, tudo bem! Eles já se tornaram brasileiros de coração.

 

Fontes consultadas:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 484 p. Il. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentos_regionais_brasileiros_2ed.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.

Barbosa, Lívia. Feijão com arroz e arroz com feijão: o Brasil no prato dos brasileiros. História, Ciências, Saúde. Horiz antropol [Internet]. 2007Jul;13(28):87–116. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832007000200005. Acesso em: 20 mar. 2025.

 

Por Michel Silva

 

Data Publicação: 26/03/2025