Descubra como essas espécies dependem uma da outra para sobreviver
Quem vê uma figueira imensa não imagina que a reprodução e a continuidade destas árvores dependem de pequenas vespas polinizadoras, pouco maiores que a cabeça de um alfinete. E, por sua vez, as vespas também dependem das figueiras para sobreviver e se reproduzir.
Você já viu uma abelha voando de flor em flor em busca de néctar para se alimentar? Abelhas e outros insetos levam grãos de pólen (elemento reprodutivo masculino) de uma planta a outra. A transferência de pólen – chamada polinização – é necessária para que as flores se desenvolvam em frutos, que contêm sementes que podem gerar outras plantas. A polinização é um exemplo de mutualismo, um tipo de relação ecológica em que todos os envolvidos são beneficiados. Neste tipo de mutualismo, os animais obtêm alimento e as plantas se reproduzem.
A polinização das figueiras é feita por pequenas vespas. Vamos conhecer melhor essa história?
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De olho nas figueiras e nos figos
Figueiras são árvores ou arbustos pertencentes ao gênero Ficus. Há cerca de 90 espécies apenas no Brasil. Aqui, elas também são conhecidas como gameleiras ou mata-pau (porque podem crescer sobre outras árvores, levando-as à morte). Vivem em matas e locais úmidos, e seus frutos servem de alimento para diversos animais silvestres. O figo que conhecemos, vendido nas feiras e supermercados, é produzido por uma espécie de figueira originária da região do Mar Mediterrâneo e trazida para o Brasil.
Nas figueiras, as flores femininas e masculinas ficam juntinhas, dentro de um figo muito pequeno, com uma abertura quase imperceptível. Dentro deste pequeno figo, as flores femininas amadurem um mês antes das flores masculinas, que produzem o pólen. Como a polinização acontece, então?
Polinização: o encontro das vespas e dos figos
É neste ponto da história que entram as vespas-do-figo, nome dado a várias espécies de vespas que polinizam estas árvores. As fêmeas medem cerca de 1,5 mm e são pequenas o bastante para passar pela abertura do figo em desenvolvimento. Elas carregam grãos de pólen de outra figueira presos em seu corpo e, já dentro do figo, polinizam as flores femininas.
E tem mais: as vespas põem seus ovos dentro do figo em desenvolvimento. Com o passar de algumas semanas, os ovos se desenvolvem em larvas que se alimentam do figo. A vespa mãe, polinizadora, morre dentro do figo.
Mais ou menos um mês depois, o figo já está desenvolvido. E as novas vespas também. As vespas-macho fecundam suas irmãs, que se desenvolvem um pouco depois. Eles não têm asas e, em geral, morrem dentro do figo. Mas antes, usam suas mandíbulas para escavar uma abertura na parede do figo, abrindo um caminho de saída para as fêmeas. Antes de sair, elas coletam grãos-de-pólen das flores masculinas, que agora estão maduras.
Fora do figo pela primeira vez em suas vidas, as fêmeas têm poucas horas para encontrar uma figueira com frutos no estágio adequado de desenvolvimento – isto é, com flores femininas maduras. Assim, recomeça a ciclo.
Outros personagens da história
Chegou a hora de apresentar os outros personagens. Há formigas que entram nos figos maduros para comer as vespas-machos mortas. Há também aranhas e outros predadores que se alimentam das vespas-fêmeas enquanto elas procuram outras árvores, além de aves, macacos e outros animais que consomem os figos maduros e ajudam a espalhar as sementes de futuras novas figueiras.
Figos e vespas: 100 milhões de anos de história
Tanto a árvore como a vespa dependem desse ciclo para sobreviver. A história das figueiras e das vespas é bem antiga. Os cientistas estimam que a relação entre estes seres vivos tenha começado há cerca de cem milhões de anos. Ao longo deste tempo, as espécies evoluíram (se modificaram) de modo conjunto e hoje são dependentes umas das outras. Quer ver um exemplo? No Brasil, o figo vendido nas feiras e supermercados (Ficus carica) não tem sementes porque a vespa que o poliniza não habita nosso país. Por isto, as figueiras são reproduzidas apenas por mudas.
A parte triste é que muitas das espécies de figueiras estão sob risco de extinção, não somente no Brasil. O desmatamento reduz as áreas de mata e, às vezes, não restam figueiras suficientes para abrigar as vespas. Por outro lado, o uso de inseticidas e outros agrotóxicos próximo a áreas de mata pode atingir as vespas.
Para que a preservação destas e de outras espécies ganhe força, queremos que mais e mais pessoas conheçam e espalhem a história do mutualismo entre figueiras e vespas.
Fontes consultadas:
Rodolfo A. Figueiredo; Marlies Sazima; Ivan Sazima. Figos e vespas sobrevivem juntos. Ciência Hoje, número 116. Volume 20. Dezembro de 1995. p. 61, 62.
Por Tereza Costa, Miguel de Oliveira, Waldir Ribeiro e Barbara Mello.
Data Publicação: 19/06/2024
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