Por: Tereza Costa
Ninguém sabe ao certo por que o mistério começou: colônias repletas de abelhas ficando mais vazias a cada dia. Para onde elas teriam ido? As abelhas restantes, a maioria jovens, não conseguem fazer todo o trabalho da colônia, que muitas vezes se extingue em poucas semanas.
O mistério aumenta porque os insetos desaparecem sem deixar rastros. Não há abelhas mortas por perto e a colônia é deixada intacta, sem vestígios de ataque por predadores. Atrás de si, as abelhas deixam reservas de mel, ovos e larvas em desenvolvimento e até mesmo sua rainha.
Desde 1995, apicultores dos EUA se deparam com esse fenômeno, hoje considerado uma epidemia mundial. O Departamento de Agricultura dos EUA estima que cerca de um terço das abelhas do país tenha desaparecido no inverno de 2012/2013. Ano a ano, mais colônias são perdidas também na Europa, na América do Sul e em outros continentes. No Brasil, há casos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e em outros estados.
Cientistas e apicultores do mundo todo procuram entender o que leva ao desaparecimento desses animais. O fenômeno, que passou a ser chamado Síndrome do Colapso das Colônias (ou CCD, Colony Collapse Disorder, em inglês), aparentemente afeta o sistema nervoso desses insetos, especialmente seu olfato, memória e senso de direção. Quando saem em busca de pólen e néctar, as abelhas se perdem, não conseguem mais voltar e morrem longe da colônia.
Mas o que provoca essa síndrome? Vírus, ácaros, fungos, mudanças climáticas, manejo incorreto, alimentação inadequada e uso de um tipo específico de pesticida (os neonicotinoides) têm sido cogitados. Para tentar proteger esses animais, a União Europeia suspendeu em 2013 o uso desses pesticidas por dois anos. Entretanto, é provável que o problema não tenha uma causa única, mas seja provocado por um conjunto de fatores diferentes.
Mas se as causas da CCD ainda geram polêmica, seus efeitos não deixam dúvidas e preocupam apicultores, cientistas e até líderes de Estado. Talvez você se pergunte:
“Por que tanta preocupação com o sumiço das abelhas? Nós podemos viver sem mel!”
Então, dê uma olhada na lista abaixo. Quais desses produtos vêm à sua mente quando você pensa em abelhas?
maçã, melancia, café, mel, camiseta, castanha-do-brasil, óleo de canola, própolis, abobrinha, macadâmia, maracujá, pêssego, chocolate, cera |
Se você pensou em mel, cera e própolis, você acertou…apenas três. Todos os produtos acima – e inúmeros outros – em certa medida dependem das abelhas para existir.
Mel, cera, geleia real, própolis – e até mesmo veneno – são fabricados por abelhas e usados para diversos fins. Mas a importância desses insetos é muito maior. Para entender por que, veja as imagens a seguir.
Profissão: polinizador
A maior parte dos alimentos de origem vegetal vem de plantas que produzem flores. E nas flores há um pó amarelado, o pólen, formado por milhares de pequeníssimos grãos. O transporte desses grãos de uma planta a outra – polinização – é uma etapa fundamental para a produção de frutos e sementes e, portanto, para a reprodução desses seres.
Que roseira, margarida e laranjeira dão flor, todo mundo sabe. Mas quem já viu flor de alface, grama ou cenoura? O que você acha: será que essas plantas também têm flor? Escreva para a gente contando! |
Saiba mais sobre o papel dos insetos na polinização lendo texto Insetos e a biodiversidade
A polinização pode ser feita pelo vento, pela água ou por animais, como beija-flores, morcegos, borboletas, besouros e, é claro, por abelhas. Cerca de 70% das culturas agrícolas são polinizadas por esses insetos. Por isso, o desaparecimento das abelhas significa menos variedade e menos quantidade de alimentos, tanto para o consumidor, como para as indústrias de produtos alimentícios. Mais ou menos um terço do que comemos está relacionado ao “serviço” de polinização prestado pelas abelhas. Olhe novamente para a imagem acima: alguns cientistas afirmam que a produção de leite e queijo também seria afetada pela falta de abelhas. Adivinha quem poliniza a alfafa que alimenta as vacas leiteiras? Indo mais longe, o que uma roupa de algodão tem a ver com esses bichos? (dica: o algodoeiro é uma planta que produz flores).
No mundo todo, a polinização das lavouras gera, de modo indireto, aproximadamente 212 bilhões de dólares ao ano. Nada mal para um “serviço” realizado gratuitamente…será mesmo? Embora as abelhas não recebam dinheiro, é comum que os apicultores aluguem suas colmeias para produtores agrícolas. O valor do aluguel varia entre 30 e 60 reais por colmeia, por mês (dados de 2014).
Funciona assim: na época da florada, as colônias são levadas até as plantações e ficam por lá alguns meses. O resultado é o aumento da produtividade de maçãs, abacates, melões e outros frutos. Um experimento feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que a presença de seis colmeias por hectare – em vez de três, como é usual na região – elevou a produtividade de maçãs de 35 para 79 toneladas.
Porém, muito mais valiosa – e inestimável – é a polinização dos ambientes naturais. Você já pensou como nascem as plantas nas florestas, matas, campos, brejos, etc.? Esse “serviço” também depende de diversos polinizadores. Por sua vez, as plantas desses ambientes prestam seus próprios “serviços” gratuitamente, como a regulação do clima e das chuvas, a proteção das encostas de morros e das margens de rios, a manutenção das nascentes e muitos outros.
A CCD é mais evidente nas abelhas criadas porque elas são constantemente monitoradas pelos apicultores. Mas a síndrome afeta também espécies nativas de abelhas e outros insetos. A importância dos polinizadores é tão grande que, em 2014, o presidente dos EUA, Barack Obama, criou uma força tarefa para estudá-los e protegê-los. Veja na matéria a seguir algumas atitudes que você também pode tomar.
Veja também:
Ajude a proteger os insetos polinizadores
Para saber mais
Se você quiser saber um pouco mais sobre a CCD e a importância das abelhas, acesse:
http://www.semabelhasemalimento.com.br/
O Desaparecimento das Abelhas Melíferas (Apis mellifera) e as Perspectivas do Uso de Abelhas Não Melíferas na Polinização. Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca et al. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/69296/1/Abelha.pdf
Para conhecer o manifesto pela proteção às abelhas ou assinar a petição em favor delas:
http://www.semabelhasemalimento.com.br/#embaixador
Você é apicultor ou tem interesse em aprender mais sobre criação de abelhas?
http://wp.ufpel.edu.br/apicultura/files/2010/05/manual_de_seguranca_apis.pdf
http://www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf
Para quem ficou curioso sobre o aluguel de abelhas…
http://super.abril.com.br/ciencia/polinizacao-colmeias-abelhas-aluguel-440437.shtml
Para quem quer saber o que pessoas em outros países dizem sobre CCD, abelhas e polinizadores (em inglês):
https://agdev.anr.udel.edu/maarec/
http://www.ars.usda.gov/News/docs.htm?docid=15572
http://edition.cnn.com/2014/06/22/politics/honey-bees-protection/
http://insects.about.com/od/antsbeeswasps/a/10-tips-to-avoid-bee-stings.htm
O conteúdo indicado acima foi acessado em 01 out 2014.
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Data Publicação: 18/01/2022