Fig 1. Imagem gerada em 18 de março de 2023 pelo Dall-E, ferramenta de criação de imagens por inteligência artificial desenvolvida pelos mesmos criadores do ChatGPT.

 

Ferramenta de inteligência artificial, ChatGPT deve ser evitado no caso de dúvidas sobre saúde

O que você faz quando tem alguma dúvida sobre saúde? Tem gente que vai direto ao Google para investigar. Desde o final de 2022, o ChatGPT também entrou na lista das fontes de consulta. Esta nova ferramenta tecnológica funciona a partir da inserção de perguntas. E, diferentemente dos buscadores de internet que geram uma lista de sites com conteúdo relacionado, no ChatGPT, obtemos um texto como resposta. Mas será que isto pode, de fato, trazer alguma contribuição para o campo da saúde? Siga por aqui e mergulhe com a gente nesta reflexão!

 

E ‘chat’ pode gerar textos?

Os chats são plataformas de internet que são usadas para conversar em tempo real com pessoas que estão distantes. O ChatGPT tem uma estrutura similar a de um chat, pois também possui um campo para enviarmos mensagens e o retorno é imediato. Mas, neste caso, a resposta é um texto!

 

Fig 2. A ferramenta possui um campo para inserção de uma pergunta (seta vermelha). Feito o questionamento, ela gera um texto como resposta. Crédito: Teresa Santos/Invivo

 

A ferramenta utiliza algoritmos, ou seja, um conjunto de comandos que analisam grandes volumes de informação por meio de inteligência artificial. A cada pesquisa, ela vasculha toda a informação relacionada ao tema que está disponível de forma livre e gratuita na internet. E, a partir desses dados, faz um resumo.

Segundo Frederico Peres, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), que vem estudando o uso do ChatGPT no campo da saúde, a ferramenta gera um texto com linguagem próxima da “natural”, isto é, muito similar à utilizada pelos seres humanos.

A plataforma pode ser acessada pelo site da empresa norte-americana OpenAI, que desenvolveu este recurso. E, para utilizá-la, basta fornecer um e-mail.

 

O uso do ChatGPT em saúde

Em entrevista ao Invivo, o pesquisador da ENSP/Fiocruz destacou que a ferramenta pode representar um ganho para o trabalho de profissionais de saúde. “Essa capacidade de revisar grandes volumes de dados e gerar sínteses, por exemplo, pode ser relevante quando temos o diagnóstico de uma doença ainda desconhecida ou pouco conhecida, como foi recentemente a Covid-19”, afirmou Peres.

Ele explicou que o ChatGPT pode passar a ser usado, por exemplo, para identificar sintomas e características similares relacionados ao comportamento de uma doença. E isto ajudaria a determinar, de forma muito rápida, padrões de surtos e emergências sanitárias, o que pode ser útil para apontar caminhos para enfrentá-los.

Mas, para o especialista, é necessário que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar com esta e outras ferramentas que usam inteligência artificial. Isso porque precisarão saber identificar se as respostas geradas são adequadas. Afinal, a coerência do texto depende da origem dos dados que foram usados para gerá-lo.

 

 

O pesquisador lembrou que boa parte das revistas científicas que têm maior cuidado com a qualidade dos trabalhos que publicam não está disponível gratuitamente na internet. As informações que são livremente acessadas estão, geralmente, postadas em blogs, sites e na Wikipédia, enciclopédia de conteúdo livre construída de forma colaborativa pelos próprios usuários. É este material que constituí a principal fonte de informação do ChatGPT. Por isso, Peres alerta que aquilo que a ferramenta encontra não necessariamente é o mais preciso do ponto de vista do conhecimento atual. “Só teremos uma boa ferramenta, cada vez mais avançada, na medida em que passemos a ter o melhor do conhecimento acadêmico disponibilizado em acesso aberto”, destacou.

Ou seja, quando o tema é saúde, as fontes mais confiáveis para obter informação ainda são os profissionais que atuam neste campo e as instituições públicas e de referência, tal como o próprio Ministério da Saúde! Então, nada de usar sites e mídias sociais para fazer diagnósticos e buscar tratamentos! Isso pode prejudicar sua saúde.

E se for pensar em usar a ferramenta para fazer aquela tarefa que está dando muito trabalho, vale lembrar que, além da questão da confiabilidade dos dados, ela não gera informação nova. “Não deixa de ser um plágio, por mais original que o texto possa parecer”, ressaltou o pesquisador da ENSP/Fiocruz. Segundo Peres, do ponto de vista ético, o uso destes recursos é complicado. “Estamos substituindo a capacidade que temos de pensar, de refletir, de fazer uma análise crítica sobre determinado problema e estamos delegando isso à inteligência artificial”, afirmou.

Para o especialista, é preciso investir no desenvolvimento de habilidades e competências para que a população possa dar melhor sentido às novas tecnologias.

 

Fontes consultadas:

Peres, F. (2023). Health literacy on ChatGPT: Exploring the potential of Artificial Intelligence use in academic writing. In SciELO Preprints. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.5658

RESP América Latina. YouTube. Webinário: Literacia em saúde no ChatGPT: um debate atual e necessário. VPAAPS, ENSP, COC/Fiocruz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J48C9UfXhGk Transmissão: 30 mar 2023.

 

Por Teresa Santos