Conheça os “mistérios” da alquimia e sua relação com o bruxinho criado por J. K. Rowling
Um jovem bruxo enfrenta um poderoso mago cujo nome não deve ser pronunciado. Não é preciso ser um grande fã para conhecer a história de Harry Potter, personagem criado pela autora inglesa J. K. Rowling. No primeiro livro da série, o vilão usa uma pedra mágica e muito poderosa: a pedra filosofal. E, embora os livros sejam uma obra de ficção, a busca pela pedra filosofal foi o objetivo dos alquimistas durante vários séculos.
Imagine transformar fios de cobre em ouro puro. Ou transformar a velhice em juventude, quem sabe até atingir a imortalidade. A busca por transformações como essas está no centro da alquimia, um conjunto de ideias que reunia conhecimentos sobre a natureza, filosofia e crenças místicas. De certa forma, a alquimia buscava compreender melhor o mundo natural e utilizar esses conhecimentos para benefício das pessoas que a praticavam.
As práticas de alquimia surgiram em várias civilizações da Idade Antiga, incluindo China, Índia, Grécia, Egito e regiões árabes. E foi principalmente através da cultura árabe que a alquimia se espalhou pela Espanha e chegou a outros países da Europa Ocidental durante a Idade Média. Um dos nomes mais conhecidos desta época é o francês Nicolau Flamel (1330 – 1418).
A pedra filosofal
Na vida real, Nicolau Flamel foi um escrivão e um vendedor de livros. Ele se casou com uma viúva chamada Perenelle. O casal ficou conhecido por sua riqueza e generosidade. Mas, séculos após sua morte, surgiram boatos de que Nicolau teria comprado um livro misterioso, escrito em uma língua desconhecida. Com a ajuda de um sábio de origem judaica, Nicolau e Perenelle teriam decifrado o livro e criado uma pedra filosofal capaz de transformar metais comuns em ouro e prata. A lenda ainda diz que, por causa da pedra, o casal teria vivido por muito, muito tempo.
A lenda sobre o casal Flamel atravessou séculos e interessou muitas pessoas, incluindo o cientista inglês Isaac Newton (1642 – 1726), que dedicou tempo e dinheiro a práticas de alquimia. E na cultura popular, Nicolau Flamel foi verdadeiramente imortalizado como personagem da série ‘Harry Potter’ e do filme ‘Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald’.
A “cura” para todas as doenças
A alquimia utilizava conhecimentos de diversas áreas, como metalurgia, filosofia, astrologia e crenças místicas. Segundo a alquimia, metais como ouro e prata eram mais puros e superiores aos demais metais conhecidos. Por meio de experimentos com fogo, considerado um agente purificador, o metal comum seria derretido e “curado” de suas impurezas, transformando-se em ouro.
A pedra filosofal também agiria como um “remédio”, promovendo a cura dos metais. E atuava ainda como um elixir da longa vida.
Um laboratório de alquimia
É difícil saber exatamente que tipo de experimentos eram realizados em um laboratório de alquimia. Os livros sobre o tema eram escritos de forma confusa, usando símbolos secretos e nomes falsos. Talvez essa fosse uma maneira de manter as descobertas em segredo. Ou talvez os alquimistas criassem mistério justamente para disfarçar seus fracassos.
As gravuras da época medieval retratam práticas alquímicas usando fogo para destilar líquidos e queimar diversos minerais, um processo conhecido como calcinação.
Como funcionava um laboratório de alquimia
1. Na fornalha, o fogo era utilizado para “purificar” cobre, chumbo e outros metais e transformá-los em ouro.
2. Aprendizes de alquimia auxiliam o mestre em seu trabalho. Um dos aprendizes pode ser o próprio autor do livro.
3. O mestre observa e ensina os aprendizes.
4. A Lua crescente de prata, a bola de ouro e o recipiente usado nos experimentos são símbolos da alquimia.
5. A balança era utilizada para pesar metais e outros materiais.
Figura 5. Ilustrações de diversos equipamentos utilizados em práticas de alquimia. Esses desenhos foram feitos entre 1200 e 1500. Crédito: British Library/Picryl. (Clique na imagem ao lado para ampliar)
O fim da alquimia: o começo de uma nova ciência
A alquimia não é considerada uma ciência. Mesmo assim, trouxe conhecimentos importantes para o entendimento do mundo natural. Em sua busca por transformações que “curassem” metais e pessoas, os alquimistas descobriram novos metais (arsênico e antimônio) e substâncias (ácidos e bases fortes). Também criaram e aperfeiçoaram técnicas de filtração, destilação, cristalização de sais e purificação de metais. Sem dúvida, o estudo dos materiais e sua forma de classificá-los significou avanços para o conhecimento da época.
A alquimia continuou existindo por toda a Idade Média e durante o período conhecido como Renascimento. Segundo alguns pesquisadores, ela abriu caminho para o surgimento de uma nova ciência dedicada ao estudo dos materiais: a química. E, mesmo hoje, vestígios da alquimia estão presentes no nosso vocabulário. Palavras como álcool, alambique, elixir e amoníaco (uma referência ao deus egípcio Amon) são uma herança da alquimia árabe. Até na cozinha, imitamos algumas práticas alquímicas, por exemplo, o banho-maria (criado pela alquimista Maria, a Judia). Outra herança é o uso de recipientes para guardar alimentos que são capazes de impedir a entrada e a saída de ar, os chamados potes herméticos (um selo com o símbolo do deus Hermes era usado para fechar frascos e garrafas, mantendo seu conteúdo protegido e em segredo).
Fontes consultadas:
Alchemy, pseudosience. Encyclopedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/alchemy/The-chemistry-of-alchemy. Acesso em: 05 set. 2022.
COSTA, R.C.T. Introdução à História das Ciências Físicas. São Carlos: IFSC/USP. 2021.
The ordinal of Alchemy, 1.477. British Library. Disponível em: https://www.bl.uk/collection-items/the-ordinal-of-alchemy-1477. Acesso em: 05 set. 2022.
Highfield R. Secrets of the Philosopher’s Stone. British Library. Disponível em: https://www.bl.uk/a-history-of-magic/articles/secrets-of-the-philosophers-stone. Acesso em: 06 set. 2022
Por Tereza Costa
Data Publicação: 09/09/2022
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