Por: Irene Cavaliere
Após o nascimento de sua primeira filha, Irène, Marie se preparava, com o apoio do marido e do sogro, para fazer doutorado – ela era uma das duas únicas mulheres que almejavam se doutorar na Europa. Em 1896, enquanto Marie procurava um tema para sua tese, Henri Becquerel, cientista francês, descobriu a radiação emitida pelo elemento urânio. Marie, buscando um novo campo de estudos que lhe possibilitasse fazer pesquisas em laboratório, escolheu a radiação de Becquerel como tema de sua tese.
Assim, junto com seu marido, Marie começou a estudar os compostos minerais que produziam tal radiação, principalmente o urânio e o tório, e cunhou o termo radioatividade. Marie concluiu que a radiação emanava de dentro do átomo. Estendendo suas pesquisas para além do urânio e do tório, desconfiou da existência de outros elementos que também liberavam radiação. Dessa forma, descobriu dois novos elementos químicos: o polônio (batizado em homenagem ao seu país de origem) e o rádio. Por essa descoberta, Marie ganhou um prêmio da Academia Francesa de Ciências, em 1898.
Porém, apesar de importância de sua pesquisa, Marie e Pierre não possuíam apoio e estrutura para executar seus trabalhos. Para isolar os novos elementos, teriam de purificar toneladas de minérios e precisavam de um espaço bem grande. O único lugar disponível era um barracão abandonado, sem ventilação e com goteiras. Marie e Pierre trabalharam duro por muitos anos, expostos à radiação, vapores venenosos e condições climáticas extremas. A falta de adequação de laboratório custou-lhes a saúde, além de dificultar o andamento das pesquisas.
A descoberta do rádio
Depois do oxigênio, o rádio foi o elemento mais importante descoberto. Ele brilha com uma luz azulada e emite partículas eletricamente carregadas, produzindo energia por tempo prolongado. Para termos uma ideia, um pedacinho de rádio do tamanho de uma moeda libera 500 calorias por dia durante mil anos! Além disso, o novo elemento representava uma possível cura para o câncer.
Embora tenha sido uma descoberta revolucionária, Pierre e Marie decidiram não patentear o processo industrial que desenvolveram para extrair o elemento. Para eles, a pesquisa deveria ser desinteressada e sem fins lucrativos. Mesmo ressentidos por não terem um laboratório adequado, os Curie dispensaram tal oportunidade de ganhar um dinheiro que poderia ser usado na pesquisa. Foi uma atitude generosa, pois assim toda a comunidade científica teria condições de investigar os novos elementos.
Quando defendeu sua tese Pesquisa de substâncias radioativas, em 1903, a banca examinadora considerou que o trabalho era a maior contribuição científica já feita por uma tese de doutorado. No mesmo ano, a Academia Francesa de Ciências indicou Henri Becquerel e Pierre Curie para dividirem o Prêmio Nobel de Física pelo trabalho sobre radioatividade. Injustamente, Marie não havia sido incluída, mas com o apoio de um influente físico sueco do comitê de indicação, ela pôde concorrer.
Em 1903, Marie, Pierre e Becquerel dividiram o prêmio pelas “pesquisas conjuntas sobre os fenômenos da radiação descobertos pelo professor Henri Becquerel”. Marie, então, tornou-se a cientista mais famosa do mundo.
Apesar disso, os Curies não possuíam um laboratório adequado na França. Somente em 1904 – ano do nascimento da segunda filha do casal, Ève – Pierre se tornou professor da Sorbonne e a construção de um laboratório lhe foi prometida. Porém, em 1906, um acidente com uma charrete interrompeu o sonho de Pierre Curie.
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Data Publicação: 02/12/2021