Por: Maria Ramos
Quando criança, eu gastava palitos e mais palitos de fósforo tentando acendê-los em algum lugar que não fosse o lado da caixa de fósforos. Queria fazer como os cowboys e gângsteres de filmes americanos antigos que acendiam palitos de fósforo em qualquer canto. Isso também acontece muito em desenhos animados, já viu?
Pois os anos se passaram e eu finalmente descobri por que eu nunca ia conseguir repetir o que eu via na TV. O motivo é muito simples: o que existe hoje em nossas casas é o chamado fósforo de segurança, que tem as substâncias necessárias para a combustão divididas entre o palito e a caixinha.
Aliás, o fósforo nem está na cabeça do palito, mas sim na superfície áspera da caixa, que contém o fósforo vermelho (um tipo de fósforo mais seguro que o usado anteriormente), sulfeto de antimônio (Sb2S3), trióxido de ferro (Fe2O3) e goma arábica (cola). No palito, fica o clorato de potássio (KClO3), e não pólvora como muita gente imagina.
Mas então por que puseram esse nome: palito de fósforo? Porque durante muito tempo o fósforo realmente estava no palito e acendia em qualquer superfície áspera. Na verdade, esse tipo de palito ainda existe, é encontrado tradicionalmente no Reino Unido.
Saiba como começou essa história…
A descoberta do fósforo
O palito de fósforo foi inventado apenas no século XIX, mas a história do produto que revolucionou a forma de se fazer fogo começou muito antes, em 1669, com a descoberta do elemento químico fósforo (P).
O alquimista alemão Hennig Brand, em uma de suas tentativas de transformar metais em ouro, descobriu o elemento acidentalmente ao manipular amostras de urina. O material que ele obteve brilhava no escuro e, por isso, Brand resolveu batizar a substância de Phosphoros, que significa “aquele que traz a luz, que ilumina”.
Em 1680, o cientista britânico Robert Boyle, um dos fundadores da química moderna, viu que uma chama era formada ao esfregar um pedaço de papel coberto com fósforo em um pedaço de madeira coberto com enxofre.
Boyle acreditava que o fogo não era provocado apenas pela fricção, mas por algo próprio àquelas substâncias. E estava certo, tinha encontrado o princípio que conduziria à invenção do fósforo.
Depois dessa descoberta, vários dispositivos químicos para ativar fogo foram desenvolvidos na Europa. Alguns usavam a combinação fósforo-enxofre de Boyle, outros, gás hidrogênio, porém todos eram complicados e muito perigosos. Em 1805, um químico francês chamado K. Chancel inventou um palito revestido de clorato de potássio e açúcar. Mas, como era preciso mergulhá-lo em ácido sulfúrico para que pegasse fogo, ele não fez muito sucesso.
Em 1827, o farmacêutico inglês John Walker descobriu que se colocasse, na ponta de um palito de madeira, sulfeto de antimônio, clorato de potássio, cola e amido, ele poderia ser aceso por atrito em qualquer superfície áspera. Walker chamou os seus palitos de congreves, numa referência aos foguetes de guerra inventados por William Congreve em 1808.
Apesar do incentivo de amigos, Walker decidiu não patentear sua invenção, registro que garante direitos exclusivos ao autor, pois desejava que ela fosse um bem público. Por isso, várias pessoas a copiaram, inclusive Samuel Jones, que passou a vender os palitos com o nome de Lucifers (um dos nomes dados ao diabo).
Embora exalassem um mau cheiro e fossem perigosos (eram explosivos e às vezes acendiam sozinhos dentro da própria embalagem), os Lucifers se tornaram muito populares entre fumantes. Para evitar incêndios, os primeiros palitos eram carregados em estojos de metais ou de porcelana. Os mais refinados eram feitos de ouro e prata e eram trabalhados como uma joia.
O fósforo é adicionado ao palito
Fontes de informação:History of Chemical Matches
Data Publicação: 02/12/2021