Descubra quem foi o trabalhador que dá nome a uma unidade da Fiocruz
Já ouviu falar em Joaquim Venâncio Fernandes? Ele era um homem negro, que nasceu em uma fazenda em Minas Gerais no final do século 19. Mas foi no Rio de Janeiro que fez história! Joaquim trabalhou por mais de 30 anos na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no campus de Manguinhos. Ele passou de servente a auxiliar de laboratório e contribuiu para várias pesquisas científicas. Dada a sua importância, foi homenageado e passou a dar nome a uma unidade da instituição: a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV).
Vamos conhecer melhor a história desse homem que mostra que trabalhadores de nível técnico também fazem ciência e são fundamentais para o avanço científico!
Do campo para o laboratório
A trajetória de Joaquim começa em 23 de maio de 1895, data do seu nascimento. Neste período, havia se passado apenas sete anos desde a Abolição da Escravatura no Brasil. Joaquim nasceu e cresceu na Fazenda Bela Vista, que se localizava na cidade de Rio Novo (MG) e pertencia à família de Carlos Chagas (1878-1934). O médico e pesquisador descobriu o Trypanosoma cruzi, agente causador de uma enfermidade que, posteriormente, ficou conhecida como doença de Chagas.
Na fazenda, Joaquim e sua família trabalhavam em plantações de diferentes produtos, entre eles, café, e também na criação de gado leiteiro e na produção de cachaça. Ou seja, ele tinha grande intimidade com plantas e animais, algo que o ajudou em seu caminho no mundo científico!
Em 1916, aos 21 anos de idade, Joaquim chega ao Rio de Janeiro, mais precisamente à Fiocruz – ou melhor, ao Instituto Oswaldo Cruz, nome da instituição na época. Inicialmente, nosso protagonista passou a exercer a função de servente. Entre suas atribuições, estava limpar o laboratório de Adolpho Lutz (1855-1940), médico e cientista de grande relevância para a medicina tropical no Brasil. Foi com Adolpho e sua filha Bertha Lutz (1894-1976), bióloga, feminista e política, que Joaquim começou a aprender práticas de laboratório.
De anfíbios e moluscos a teste de gravidez!
Em 1931, Joaquim foi oficialmente nomeado auxiliar de laboratório. Ele participou ativamente de várias pesquisas, tanto executando atividades dentro do laboratório quanto coletas em campo.
Durante os mais de 30 anos em que trabalhou na Fiocruz, ele adquiriu grande conhecimento sobre vários animais, entre eles, anfíbios, moluscos e vermes. Sabia, por exemplo, distinguir espécies de sapos e rãs pelo som produzido por elas. Esteve por trás de várias descobertas científicas, e foi responsável pelo desenvolvimento de um método para confirmar gravidez. A técnica, que funcionava a partir da introdução da urina da mulher em sapos, ficou conhecida como “prova da rã” e foi amplamente utilizada até 1960.
Além de contribuir para vários trabalhos científicos produzidos por Adolpho e Bertha Lutz, atuou com outros cientistas nacionais e estrangeiros. Mas apesar de sua contribuição, Joaquim nunca assinou um trabalho científico em coautoria com cientistas.
Para além do laboratório….
Durante todo o período em que trabalhou na Fiocruz, Joaquim também morou no instituto. Foi lá que viveu com sua esposa Sebastiana Batista de Carvalho Fernandes e que tiveram cinco filhos: Celso, Joaquim, Renée, Wanderley e Hugo.
Entre as qualidades de Joaquim, estavam a inteligência e a alegria. Era respeitado na instituição e chamado de “guru” por colegas. E, mesmo sem ter tido educação formal, tinha grande saber e passava seus conhecimentos às pessoas. Outra função que exercia era a de vigia da instituição. À noite, ele fazia uma ronda pelo terreno do campus de Manguinhos.
Joaquim faleceu em 27 de agosto de 1955 devido a complicações cardíacas. Em 1985, foi criada a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), unidade da Fiocruz que é voltada para a formação de técnicos para a área de saúde.
Em 2009, os alunos da EPSJV produziram o vídeo “Em busca de Joaquim Venâncio”, que narra o caminho que os estudantes percorreram para obter mais informações sobre o nosso personagem. Acesse o vídeo aqui.
Fontes consultadas:
BIOBRASIL: JOAQUIM VENÂNCIO. Brasil es mucho más que Samba. Universidad D Salamanca. Disponível em: https://cebusal.es/podcast/biobrasil-joaquim-venancio/?lang=pt-br. Acesso: 14 abr 2023.
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio completa 35 anos. Fiocruz. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/escola-politecnica-de-saude-joaquim-venancio-completa-35-anos. Publicação: 08 jun 2020. Acesso: 14 abr 2023.
Tiburtino G. Sobre os ombros de um gigante: A história de Joaquim Venâncio Fernandes, personagem negro da ciência que dá nome à Escola Politécnica da Fiocruz. Radis. ENSP/Fiocruz. Disponível em: https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/reportagem/sobre-os-ombros-de-um-gigante. Publicação: 17 jan 2023. Acesso: 14 abr 2023
Ferreira LF. Joaquim Venâncio Fernandes (1895-1955). Trabalho, Educação e Saúde, vol.1 no.1 Rio de Janeiro Mar. 2003. Disponível: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462003000100003. Acesso: 14 abr 2023
REIS, Renata. A “grande família” do Instituto Oswaldo Cruz: a contribuição dos trabalhadores auxiliares dos cientistas no início do século XX. 2xxf. Tese de Doutorado em Educação – Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Fluminense, 2018. Disponível: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56302. Acesso: 14 abr 2023
Por Teresa Santos
Data Publicação: 05/05/2023