Conheça mais sobre a história do conceito de eugenia e entenda por que precisamos falar sobre isso mesmo depois de tanto tempo
Talvez você ainda não tenha ouvido falar em eugenia, mas há cerca de cem anos, esta teoria era bem popular. O termo, que significa “bem-nascido” em grego, era considerado uma “ciência” naquela época. Para seus defensores, chamados de eugenistas, a eugenia era o caminho para melhorar biologicamente os seres humanos. Hoje, poucas pessoas defendem esta teoria de forma declarada. Apesar disso, vamos ver a seguir que suas práticas e ideias continuam presentes de várias formas.
Veja abaixo algumas características dessa teoria.
Três características da eugenia:
1. No início do século 20, os defensores da eugenia culpavam a biologia por problemas sociais como pobreza e criminalidade. Acreditavam que essas características ruins eram passadas de pais para filhos.
2. A eugenia estabelecia a diferenciação entre dois grupos: o grupo das pessoas “adequadas” e o das “inadequadas”. E os próprios defensores desta teoria definiam quem se encaixava em cada grupo.
3. Ela propunha medidas para “melhorar” a população. Também incentivava as pessoas “adequadas” a terem mais filhos, enquanto limitava a reprodução daquelas consideradas “inadequadas”. O objetivo era que, com essas medidas, a população em geral ficasse “mais forte e inteligente”.
A eugenia na história
O termo eugenia foi criado pelo inglês Francis Galton (1822-1911) no final do século 19. E, no período entre as duas grandes Guerras Mundiais, de 1918 a 1939, movimentos eugenistas se espalharam por vários países da Europa e da América, inclusive no Brasil.
Aqueles que estudavam a eugenia acreditavam que estavam seguindo os princípios científicos, isto é, julgavam seguir uma teoria surgida a partir de raciocínio indutivo e buscavam sustentá-la por meio de experimentos.
Eles propunham leis e medidas como restrições à imigração e realização obrigatória de exames paraor pessoas que desejavam se casar a fim de verificar se estavam aptos a gerar filhos considerados “adequados”. Havia, até mesmo, defensores da esterilização forçada das pessoas consideradas “menos adequadas”.
Existe eugenia nos dias de hoje?
Apesar de, hoje em dia, ser muito difícil encontrar uma pessoa ou um cientista se proclamando um eugenista e se orgulhando disso, será que podemos dizer que a eugenia foi totalmente varrida do mapa?
Como vimos, uma das principais características da eugenia é dizer que existem pessoas “melhores” do que outras. Isto significa que ela estimulou diferentes tipos de preconceito. Entre eles, discriminação contra a cor da pele, orientação sexual, local de origem, bem como contra mulheres e pessoas com deficiência. Todas essas questões, infelizmente, ainda hoje estão entre nós.
Ou seja, podemos dizer que sempre que nos deparamos com esses e outros preconceitos, estamos diante de ideias e práticas eugenistas.
Lutar contra a eugenia significa combater todo o tipo de preconceito. Existe inclusive um movimento antieugenia que luta por um futuro mais justo para todas as pessoas.
Para combater as ideias e práticas eugenistas que persistem hoje, é importante conhecer e discutir a história desse movimento.
Saiba mais:
A árvore da eugenia (e a árvore antieugenia)
Por Robert Wegner e Angelo Nicoladeli, historiadores, Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz
Fontes consultadas:
CRUZ, Rodrigo Andrade da. Das ervilhas mendelianas ao “decimo submerso” aspectos teóricos e práticos do desenvolvimento da eugenia nos Estados Unidos. André Mota; Maria Gabriela Silva Martins da Cunha Marinho (Orgs). Eugenia e história: ciência, educação e regionalidades. São Paulo: USP, Faculdade de Medicina; UFABC, Universidade Federal do ABC; Casa de Soluções e Editora, 2013. pp.37- 48.
DIWAN, Pietra: Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e nomundo. São Paulo: Contexto, 2007.
KEVLES, Daniel J. In the Name of Eugenics: genetics and the uses of human heredity. 5.printing. Cambridge and London: Harvard University Press, 2004.
SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Renato Kehl e a eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no período entreguerras. Guarapuava, Paraná: Editora Unicentro, 2019.
Data Publicação: 03/07/2024