Por: Maria Ramos
Não está muito claro quem levou a casca de cinchona para a Europa. Sebastiano Bado, um italiano, dá o crédito, em uma publicação de 1663, à esposa do vice-rei do Peru, Ana de Osório, condessa de Chinchón.
Segundo ele, a condessa teria adoecido de malária enquanto estava no Peru e recebido um pó que curou as febres. Impressionada com a cura, ela teria coletado a casca e dado a outros doentes. Os pacientes agradecidos – ficaram todos curados – chamaram o novo remédio de ‘pó da condessa’. Ana de Osório, segundo Bado, teria ainda levado consigo uma grande quantidade da casca de cinchona ao regressar para a Espanha.
Mas a história é polêmica. Um diário do conde de Chinchón, escrito por seu secretário, Don Antonio Suardo, descoberto em 1930, desmente a história toda. Ninguém merece, não? O diário declara que Ana de Osório, a primeira condessa de Chinchón, morreu na Espanha pelo menos três anos antes de seu marido ser indicado como vice-rei do Peru. Ou seja, ela nem sequer teria ido para a América!
Bom, mas você já deve ter percebido que o nome da árvore, cinchona, foi mesmo dado em homenagem à condessa. Aparentemente aceitando o relato de Sebastiano Bado, o botânico suíço Carl Lineu batizou, em 1742, de Cinchona o gênero das árvores produtoras de quinino. Existem cerca de 40 espécies de árvores desse gênero, apesar de nem todas serem boas produtoras do medicamento.
Agora, se você é observador, já viu que Lineu errou ao escrever o nome, tirando o h do Chinchón. Talvez induzido por Bado que italianizou o nome (em italiano, o c antes de i é pronunciado como ch no espanhol e no inglês). Depois da morte de Lineu, perceberam o erro na grafia, mas era tarde demais para mudar!
Mas, voltando a história de como a cinchona entrou na Europa, é certo que missionários jesuítas espanhóis contribuíram para a popularização da casca, tanto que ela também era chamada de casca dos jesuítas pelos europeus. No Peru, os missionários passavam muito tempo com os indígenas querendo convertê-los ao cristianismo e, assim, aprenderam sobre o poder de cura da casca com os nativos moradores das florestas da cordilheira dos Andes, provavelmente entre 1620 e 1630.
A fabricação de medicamentos
Em 1820, os químicos franceses Pierre Pelletier e Joseph Caventou conseguiram extrair o quinino da casca de cinchona, permitindo que a substância fosse concentrada para a produção de medicamento. Ao invés de registrar os direitos sobre a descoberta e cobrar por isso, Pelletier and Caventou publicaram todos os detalhes sobre o processo de extração para que qualquer empresa pudesse produzir o remédio.
Com a intensificação do uso do quinino, a venda da casca de cinchona passou a ser um negócio muito lucrativo. Por isso, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru proibiram a exportação de sementes e plantas, numa tentativa de impedir que outros países plantassem a árvore. Você deve lembrar que, naquela época, a cinchona só existia na região dos Andes da América do Sul. Mas as sementes foram contrabandeadas para Java, na Holanda, região que já em 1930 produzia quase todo o quinino usado no mundo.
Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o exército alemão apoderou-se de toda a reserva de quinino da Europa ao invadir Amsterdã, na Holanda. Quando os japoneses invadiram a Indonésia em 1942, os Estados Unidos e seus aliados ficaram quase sem fornecimentos de quinino.
O risco de contágio das tropas em combate, acarretando em mortes de soldados, levou a investimentos para a obtenção de quinino de forma sintética, ou seja, produzida em laboratório. Isso foi conseguido em 1944 por Robert Woodward e William Doering.
Fonte de imagem: http://dererummundi.blogspot.com/2007/08/curiosidades-histricas-cocana-e-quinino.html
Data Publicação: 13/01/2022