
Fig 1. Sistema Braille possui seis pontos em relevo, possibilitando 63 combinações. Crédito: Raquel Portugal/Fiocruz Imagens
Conheça a história do sistema que há séculos promove a inclusão de pessoas cegas e com baixa visão
Era uma vez, há muitos anos, um menino chamado Louis Braille. Ele nasceu na França em 1809…. E ele está aqui no Invivo por um feito muito especial: a criação do sistema Braille! O método, que ganhou seu nome, possibilita que pessoas com deficiência visual utilizem a escrita e a leitura táteis. Tudo isso usando apenas seis pontos em relevo e 63 combinações, que representam letras, números e outros sinais. Incrível, não? Vamos descobrir mais sobre essa história inspiradora!
Quem foi Louis Braille (1809-1852)?

Fig 2. Louis Braille, inventor do Sistema Braille. Crédito: Mariaelizabeth124/Wikimedia Commons
Louis Braille nasceu na França em 1809, na pequena vila de Coupvray. Seus pais, Simon-René (1764-1831) e Monique Braille (1793-1875), eram pessoas muito amorosas e trabalhadoras. Simon-René era um marceneiro habilidoso e Monique cuidava da casa e dos filhos.
Louis adorava brincar e um dia, quando tinha apenas três anos, sofreu um acidente com uma ferramenta na oficina de seu pai e acabou ficando cego.
Ele era inteligente e determinado e o acidente não limitou sua curiosidade e sonhos. Com o apoio e incentivo de seus pais, frequentou a escola local, apesar da instituição não possuir programas voltados para crianças com deficiência visual. Mesmo assim, destacou-se nos estudos.
Da ‘escrita noturna’ ao sistema Braille
Aos 10 anos de idade, Louis Braille ganhou uma bolsa para estudar no Instituto Real de Jovens Cegos, em Paris. Lá, ele conheceu um sistema de leitura chamado ‘escrita noturna’, inventado por Charles Barbier de la Serre (1767–1841), um oficial francês.

Fig 3. A escrita noturna utilizava pontos em relevo que eram lidos pelo tato. Ela tinha como princípio a transcrição de pequenas unidades de som, os chamados fonemas, em um padrão de pontos em relevo. Na imagem, vemos o Sistema Barbier na língua francesa. Crédito: Cristinacubellsperez/ Wikipedia Commons
O sistema noturno possuía duas colunas de seis pontos cada, totalizando 12 pontos e gerando uma quantidade muito grande de códigos. Esse sistema é bem complexo e era utilizado em situações militares de mensagens curtas com um dicionário ao lado para conferir. E desta forma, não servia para uma leitura ou escrita natural. Braille buscava algo a ser usado na escrita e na leitura diárias pelos cidadãos cegos.
De fato, a ‘escrita noturna’ foi a grande inspiração de Louis para a criação do sistema Braille.
Como funciona o sistema Braille?
Braille é um sistema universal para pessoas cegas ou com baixa visão. O código criado por Louis também usava pequenos pontos em relevo, com ou sem bolinhas, que podiam ser sentidos com as pontas dos dedos. Eles ficavam distribuídos em uma grade de dois retângulos colados um no outro.

Fig 4. À esquerda, escrita Braille do Jardim dos Códigos no Parque da Ciência, no Museu da Vida Fiocruz (RJ). Já à direita vemos o detalhe da peça, em especial a estrutura retangular (2×3). Crédito: Jeferson Mendonça/Fiocruz Imagens
Esse sistema de dois retângulos criava seis pontos: dois em cima, dois no meio e dois embaixo. E isto permitia formar 63 combinações possíveis (na verdade, 64, mas ele descartou o ‘totalmente sem bolinhas’, pois iria confundir com espaço em branco). E cada combinação de pontos representava uma letra ou um número e ainda sobravam combinações para outros símbolos de escrita, como pontos de exclamação e interrogação.
Surgiram outras propostas com mais retângulos, mas isso só complicava. O sistema de Braille era perfeito, suficiente e compacto! E é, por isso, que segue possuindo essa estrutura (seis pontos, possibilitando 63 combinações) até hoje.
A divulgação do Sistema Braille pelo mundo
Em 1824, Louis apresentou sua escrita Braille para seus colegas e professores. Todos ficaram maravilhados! Mas levou um tempo até o sistema realmente ‘ganhar o mundo’.
Uma das primeiras ações de divulgação foi a publicação do livro ‘Método de palavras, escritas, música e canções por meio de sinais, para uso dos cegos e adaptados para eles’, em 1829. Esse foi o primeiro passo de Louis para tentar de difundir o sistema Braille. Mas foi em 1837 que o sistema foi atualizado e codificado, ganhando a ‘cara’ que conhecemos hoje.
Em 1843, o sistema Braille foi oficialmente aceito em Paris e a partir desse momento, começou a ser utilizado para a impressão de livros pelo Instituto Real de Jovens Cegos. E, em 1854, o Instituto Real de Jovens Cegos no Brasil publicou o primeiro trabalho em Braille: um livro de leitura português. A obra foi também a primeira produção que traduziu um texto não francês para o Braille. Este marco foi possível graças à doação pessoal do Imperador do Brasil.
A adoção do sistema Braille na Europa foi lenta, mas, entre 1860 e 1880, o Braille passou a ser utilizado em todo esse continente.
Durante sua jornada de implementação do novo sistema de escrita e leitura táteis no mundo, Louis contou com o apoio de alguns amigos. Entre eles, estavam François-Pierre Foucault (1797-1871), um colega de classe que sempre o incentivava e que criou uma máquina de impressão para Braille. Outro nome de destaque foi Madame Dupont, uma professora gentil que acreditava no potencial de Louis. Juntos, eles ajudaram a divulgar a escrita Braille e a torná-la conhecida em todo o mundo.

Fig 5. Rafígrafo, um equipamento que inspirou a criação das máquinas de escrever. Ele produzia o alfabeto usual em relevo. Crédito: Hotdamnslap/Wikimedia Commons
Nos dias de hoje…
Atualmente, existem várias formas de comunicação tátil, além da escrita Braille, como o Alfabeto Manual utilizado por pessoas surdocegas. Nesse código, cada letra do alfabeto é representada por um gesto específico feito com os dedos na palma da mão. A Linguagem Tátil Social é outro exemplo mais recente. Ela Inclui gestos e toques usados no dia a dia para transmitir emoções e atitudes, como abraços, apertos de mão e carícias.
Hoje, 200 anos depois, Louis Braille é lembrado como um herói!
E, atualmente, temos pelo menos duas datas no calendário para lembrar, homenagear e lutar pelos direitos das pessoas cegas e com baixa visão, dando continuidade ao trabalho de Louis Braille.
Uma delas é internacional, o Dia Mundial do Braille, celebrado em 4 de janeiro. Essa data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2018 para sensibilizar a população sobre a importância do Braille como meio de comunicação para pessoas com deficiência visual. A data foi escolhida em homenagem ao aniversário de Louis Braille.
A outra data comemorativa é exclusiva do Brasil, o Dia Nacional do Braille, em 8 de abril. Na ocasião, homenageia-se José Álvares de Azevedo (1834-1854), responsável por trazer o método Braille ao Brasil e fundar a primeira escola para pessoas com deficiência visual no país, o Imperial Instituto de Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant). Ele é considerado o “Patrono da educação de cegos no Brasil”.

Fig 6. Fachada do Instituto Benjamin Constant na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Crédito: Robert Cutts/Flickr
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Fontes consultadas:
de JB Cerqueira. O Legado de Louis Braille· 2009: Benjamin Constant. Disponível em: https://revista.ibc.gov.br/index.php/BC/article/view/440. Acesso em: 04 abr 2025.
Musée Louis Braille. Barbier the Intuitive. Disponível em: https://museelouisbraille.com/en/barbier-l-intuitif. Acesso em: 04 abr 2025.
Por Paulo Henrique Colonese. Adaptado por Teresa Santos para Invivo.
Data Publicação: 08/04/2025