Esse texto é uma adaptação da matéria “Comida de verdade: Escolhas nutritivas e acessíveis fazem parte de uma alimentação saudável e podem evitar doenças”, publicada originalmente no jornal Maré de Notícias (edição 149/junho 2023), veículo associado ao site Invivo.
Alimentação natural, rica em produtos obtidos diretamente da natureza e minimamente processados, pode ajudar a evitar doenças
De acordo com o ‘Guia Alimentar para a População Brasileira’, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, é recomendado evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, isto é, produtos industrializados que passaram por várias etapas de processamento. Mas, muitas vezes, eles são atrativos devido aos preços mais baixos e à ideia de economia de tempo. Para a nutricionista Wanessa Natividade, porém, “é possível ter uma alimentação nutritiva e economicamente saudável. Ela não está associada ao consumo de alimentos caros, e, sim, à qualidade nutricional dos alimentos”.
Wanessa é chefe do Núcleo de Alimentação, Saúde e Ambiente (Nasa) da Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo ela, o ‘Guia Alimentar para a População Brasileira’ determina que uma alimentação adequada e saudável deve ser baseada em alimentos in natura: “Isso quer dizer o que é obtido diretamente da natureza e minimamente processado, como frutas, legumes, verduras, raízes, ovos, cereais, feijões, carnes e leite. Ou seja, comida de verdade, preparada a partir de alimentos sem aditivos químicos ou muito processada”, explica a pesquisadora.
Optar por uma alimentação natural não significa sobrecarregar a rotina. “Temos que substituir essa ideia de que o lugar de cozinhar é da mãe, da mulher, da filha. Esse lugar é da família”, ressalta Mariana Aleixo, chef de cozinha e doutora em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ela, quando a tarefa é compartilhada por todos, isso também repercute na economia de tempo. Mariana é coordenadora do Maré de Sabores, projeto sediado no Complexo da Maré, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, que busca promover a valorização do conhecimento ancestral da alimentação no contexto profissional. Criado em 2010, ele tem sua sede na Casa das Mulheres da Maré.
Alimentos industrializados impactam a saúde física e mental
Refrigerantes, refrescos em pó, macarrão instantâneo, salsicha, biscoitos recheados, lasanha congelada — esses são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados. Eles são geralmente ricos em gorduras, açúcares ou sódio. Em níveis elevados, estes componentes estão associados a problemas de saúde como obesidade e hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e até depressão e ansiedade.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 revelou que mais da metade dos adultos brasileiros apresenta excesso de peso (60,3%). São 96 milhões de pessoas.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) de 2021, 26,3% da população brasileira sofre de hipertensão arterial. Entre os estados brasileiros, o do Rio de Janeiro é o que apresenta uma das maiores prevalências de diagnóstico médico dessa comorbidade, com 28,1%.
A hipertensão arterial é uma doença de origem multifatorial, ou seja, contribuem para o seu desenvolvimento tanto fatores genéticos como ambientais (por exemplo, obesidade, hábitos alimentares inadequados, tabagismo e inatividade física). Por isso, a adoção de hábitos saudáveis, tal como uma alimentação natural, pode ajudar a prevenir este problema.
Substituições acessíveis para alimentação natural
Desde que começou a participar do curso de gastronomia do projeto Maré de Sabores, Solange de Souza abandonou os temperos industrializados e passou a usar apenas os naturais. Páprica picante, pimentões e outros tornaram-se os novos aliados da moradora da Nova Holanda, uma das 16 favelas que compõe o Complexo da Maré. “Agora percebo o quanto os alimentos fazem diferença em nossas vidas”, diz ela.
A mesma sensação é compartilhada por Iula Tavares, também participante do curso de gastronomia do Maré de Sabores. Além das substituições saudáveis da alimentação natural, ela passou a aproveitar ao máximo os alimentos: “Descobri que posso utilizar uma abóbora inteira, inclusive a casca”, destaca.
Essa nova rotina nas casas dos moradores da Maré não é tão nova assim. De acordo com a chef Mariana, ao descobrirmos que alimentos ultraprocessados podem ser prejudiciais à saúde, começamos a fazer escolhas melhores dentro de nossa realidade: “Historicamente, as famílias já faziam isso”, diz.
Bom e barato
Um ótimo lugar para ter acesso a produtos da alimentação natural é numa feira livre. Você pode descobrir se há feiras que vendem produtos orgânicos, ou seja, que são produzidos sem o uso de produtos químicos, perto da sua casa no site no Mapa de Feiras Orgânicas, site idealizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Também é aconselhável procurar saber o que é da época, afinal, os preços ficam mais em conta. Confira abaixo os calendários desenvolvidos pelo Núcleo de Extensão da Universidade de São Paulo sobre alimentação sustentável que trazem mais informações ou acesse o conteúdo aqui.
Fig. 5, 6 e 7. Créditos: Núcleo de Extensão da Universidade de São Paulo
Fontes consultadas:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
Brasil. Ministério da Saúde. Gov.br. EU QUERO ME ALIMENTAR MELHOR: Qual é a relação entre consumo de ultraprocessados e risco de mortalidade?. Disponível em:https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/noticias/2022/qual-e-a-relacao-entre-consumo-de-ultraprocessados-e-risco-de-mortalidade Publicação: 07 jun 2022. Acesso: 04 out 2023.
Phillips CM, Shivappa N, Hébert JR, Perry IJ. Dietary inflammatory index and mental health: A cross-sectional analysis of the relationship with depressive symptoms, anxiety and well-being in adults. Clin Nutr. 2018 Oct;37(5):1485-1491. doi: 10.1016/j.clnu.2017.08.029. Epub 2017 Sep 5. PMID: 28912008.
Brasil. Ministério da Saúde. Gov.br. Pesquisa do IBGE mostra aumento da obesidade entre adultos. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/10/pesquisa-do-ibge-mostra-aumento-da-obesidade-entre-adultos. Atualização: 10 jan 2023. Acesso: 04 out 2023.
Brasil. Ministério da Saúde. Gov.br. VIGITEL: Relatório aponta que número de adultos com hipertensão aumentou 3,7% em 15 anos no Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/maio/relatorio-aponta-que-numero-de-adultos-com-hipertensao-aumentou-3-7-em-15-anos-no-brasil. Atualização: 03 nov 2022. Acesso: 04 out 2023
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). #SBEMRESPONDE: HIPERTENSÃO. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/sbemresponde-hipertensao/#:~:text=A%20HA%20est%C3%A1%20associada%20a,%2C%20tabagismo%20e%20inatividade%20f%C3%ADsica). Publicação: 26 abr 2019. Acesso: 04 out 2023.
Brasil. Fiocruz. Canal Saúde.Tomar refrigerante faz mal à saúde. Disponível em: https://www.canalsaude.fiocruz.br/noticias/noticiaAberta/tomar-refrigerante-faz-mal-a-saude-2017-03-22. Publicação: 22 mar 2017. Acesso: 04 out 2023
Sustentarea – Núcleo de Extensão da USP sobre alimentação sustentável. Sazonalidade. Disponível em: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/2019/04/25/sazonalidade/. Publicação: 25 abr 2019. Acesso: 04 out 2023
Por Teresa Santos
Data Publicação: 06/10/2023
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