Fig 1. O déjà vu pode ser causado pelo processamento incorreto de informações no cérebro. Crédito: ChuangTzuDreaming /Getty Images

Este conteúdo faz parte do especial “Semana do Cérebro no Museu da Vida Fiocruz 2025”.

 

Descubra o que é o déjà vu e por que, às vezes, parece que já estivemos em um lugar mesmo sem ter estado nele antes

Você está conversando com um amigo quando, de repente, tem a sensação que já viu aquela cena acontecer antes. As palavras, o ambiente, a situação… Tudo parece incrivelmente familiar, mas você sabe que nunca viveu aquele momento. Esse fenômeno, chamado de déjà vu, é um dos mistérios mais intrigantes do funcionamento do nosso cérebro.

Mas o que está por trás dessa sensação?

 

O que é o déjà vu?

O termo déjà vu vem do francês e significa “já visto”. Ele foi descrito pela primeira vez pelo pesquisador Émile Boirac, no final do século 19. O termo foi utilizado pelo cientista enquanto estudava como as pessoas percebiam determinadas experiências como familiares mesmo sem ter uma memória real daqueles eventos.

Para entender como esse curioso fenômeno acontece e as principais explicações científicas, o Invivo conversou com a Dra. Taissa Ferrari Marinho, médica neurologista especialista em epilepsia e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Vamos embarcar nessa viagem pelo funcionamento do nosso cérebro?

 

Mas o que causa esse fenômeno?

Apesar de ser um evento relativamente comum, a ciência ainda não tem uma resposta definitiva sobre o que provoca o fenômeno. Existem, porém, algumas teorias neurocientíficas que tentam explicar o que acontece no nosso cérebro quando sentimos essa estranha familiaridade com algo que nunca vivemos antes.

Entre as principais hipóteses, a Dra. Marinho destaca:

–  Teoria da Discrepância da Memória – O cérebro comete um erro no processamento da informação, interpretando uma experiência nova como se fosse uma memória.

–  Teoria da Dualidade do Processamento – Um desencontro entre os sistemas de reconhecimento e recuperação da memória faz com que algo novo pareça familiar, mesmo sem um episódio correspondente.

–  Teoria Neurológica – Algumas pesquisas sugerem que o fenômeno pode estar relacionado a descargas elétricas anormais em regiões do cérebro ligadas à memória e ao reconhecimento.

 

Fig 2. Na ilustração do cérebro, a área em amarelo é a responsável pelo processamento da memória. A região é uma das envolvidas no fenômeno do déjà vu. Crédito: tose/ Getty Images

 

É possível reproduzir um déjà vu em laboratório?

Sim! E isso já foi feito! Por volta da década de 1950, neurocientistas conseguiram reproduzir a sensação em pacientes acordados, estimulando diretamente certas regiões do cérebro. Isso, segundo a Dra. Marinho, ajudou a entender melhor quais regiões do cérebro estão envolvidas no processamento da familiaridade e da memória.

 

Fig 3. O tempo se desdobra como um eco na mente – a sensação de déjà vu nos faz questionar se estamos vivendo ou apenas relembrando o presente. Crédito: pimthida/Flickr

 

Quando pode ser um sinal de alerta?

Na maioria dos casos, o déjà vu é um evento isolado e sem nenhuma associação com doenças. No entanto, a neurologista da ABN lembra que, em algumas situações, ele pode indicar um problema neurológico, como crises epilépticas.

Se você tem a sensação com muita frequência, atenção! Outro sinal de alerta é “quando a sensação vem acompanhada de aperto na garganta, mal-estar no estômago, movimentos involuntários ou perda de consciência”, explica a Dra. Marinho. Em todos esses casos, ela lembra que é importante procurar um neurologista para uma investigação mais detalhada.

 

Fig 4. Quando memórias e realidade se confundem, o déjà vu pode ser apenas um fenômeno comum, mas em alguns casos pode indicar alterações neurológicas que merecem atenção. Crédito: FG Trade / Getty Images

 

Ele ainda intriga a ciência!

Apesar dos avanços na neurociência, o déjà vu ainda é um mistério. O que sabemos até agora é que ele está fortemente ligado à maneira como nosso cérebro processa memórias e reconhece experiências.

Se você já teve um, saiba que não está sozinho! Estudos apontam que esse fenômeno ocorre com cerca de 60% a 80% das pessoas, principalmente entre os 15 e 25 anos de idade.

Embora ainda haja muito a ser descoberto, a ciência segue explorando esse enigma fascinante do nosso cérebro. E você? Já teve um déjà vu?

 

Saiba mais sobre os mistérios do cérebro em:

Semana do Cérebro 2022: Especial

Como a poluição do ar afeta o nosso cérebro?

Precisamos de mais redes sociais?

 

Fontes consultadas:

DE ABREU RODRIGUES, Fabiano. O que é o déjà vu? What is déjà vu?. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 1, p. 3227-3233, 2022. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/42639/pdf. Acesso em: 27 fev 2025.

BROWN, Alan S. A review of the déjà vu experience. Psychological Bulletin, v. 129, n. 3, p. 394-413, 2003. Disponível em: https://scholar.archive.org/work/7vsthnekijgrndhekq37qm32ue. Acesso em: 26 fev. 2025.

BERTRAND, Julie M. F.; MARTINON, Léa M.; SOUCHAY, Céline; MOULIN, Chris J. A. History repeating itself: Arnaud’s case of pathological déjà vu. Cortex, v. 87, p. 129-141, 2017. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0010945216300326. Acesso em: 03 mar 2025.

GOMES, Marleide da Mota. Understanding the interplay between epilepsy and dreaming. Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria, v. 28, n. 1, p. 60-74, jan./abr. 2024. Disponível em: https://www.revneuropsiq.com.br/rbnp/article/view/1131/321. Acesso em: 27 fev 2025.

 

Por Michel Silva

Data Publicação: 10/03/2025