Fig 1. Tosse com secreção, dor torácica que piora ao inspirar ou expirar, mal-estar geral, falta de ar e febre são alguns sinais da doença. Crédito: nortonrsx/iStock

Especialista do INI/Fiocruz alerta que, com vacinas, número de casos de pneumonia em crianças diminuiu, mas ainda é um desafio em idosos

 

Você sabe qual é o grupo de infecções mais mortal no mundo? No topo da lista, estão as infecções do trato respiratório inferior, isto é, que afetam a traqueia e os pulmões, tal como a pneumonia. Dados do estudo Carga Global de Doenças (IMAS, 2024) revelam que, em 2021, a doença matou quase 2,2 milhões de pessoas em todo o mundo. Quase metade desses óbitos ocorreu entre pessoas com 70 anos ou mais.

O InVivo conversou com Denise Medeiros, médica pneumologista e intensivista do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz), para saber mais sobre essa doença. Descubra abaixo o que é pneumonia, os subtipos existentes, os sinais de alerta e como tratar e prevenir essa infecção que é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

 

Fig 2. Dra. Denise Medeiros, médica pneumologista e intensivista do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz). Crédito: INI/ACS/Karina Burini.

 

InVivo: O que é pneumonia? E qual a diferença entre pneumonia e broncopneumonia?

Dra. Denise: Pneumonia é infecção do pulmão propriamente dita.

Do ponto de vista da medicina, da pneumologia, a diferença entre pneumonia e broncopneumonia é anatômica. A broncopneumonia seria um subtipo de pneumonia. E ela recebe essa denominação porque a infecção começa principalmente nos brônquios (estruturas que ligam a traqueia aos pulmões).

Mas existem outros subtipos, a depender da região do pulmão afetada, por exemplo, a pneumonia lobar (que afeta o lobo pulmonar) e pneumonia intersticial aguda (que afeta as células que rodeiam os alvéolos).

 

Confira abaixo um esquema com mais detalhes da anatomia do pulmão:

 

Fig 3. Os pulmões são divididos em lobos. Do lado direito, há 3 lobos (superior, médio e inferior) e do esquerdo são 2 (superior e inferior). Os brônquios são ramificações que partem da traqueia e entram nos pulmões. Eles se ramificam ainda mais e dão origem aos bronquíolos. Estes terminam nos chamados alvéolos pulmonares, pequenos ‘sacos’ onde ocorre a troca gasosa com o sangue. Crédito: Tatsiana Matusevich/iStock (adaptado por Invivo)

 

InVivo: A pneumonia pode ser causada por diversos agentes infecciosos (bactérias, fungos e vírus)?

Dra. Denise: Sim, por diversos agentes.

Sempre se falava que o principal causador de pneumonia era a bactéria pneumocócica. Mas, atualmente, com a proteção das vacinas, a gente já sabe que a principal causa de pneumonia, tanto em adultos quanto em crianças, é vírus.

A Covid-19, por exemplo, pode causar pneumonia viral. Ela causava broncopneumonia frequentemente. Mas não só ela. A influenza (gripe) pode causar pneumonia. O próprio sarampo já dizimou populações indígenas inteiras exatamente porque ele também pode causar pneumonia.

As pneumonias virais geralmente são transmitidas por via inalatória. Já a pneumonia bacteriana, embora possa ser muito grave, não é contagiosa. Ela ocorre porque houve alguma quebra no sistema de proteção do pulmão. E, com isso, a bactéria que, por exemplo, estava na garganta do doente consegue penetrar no órgão. Nesse caso, diferentemente da viral, a pneumonia bacteriana não é transmitida de uma pessoa para outra.

 

Fig 4. A pneumonia viral pode ser adquirida pela inalação de gotículas de saliva contaminada, bem como por contato direto com secreção contaminada. A transmissão por transfusão de sangue contaminado também pode ocorrer, porém, é mais raro. Crédito: idrisesen/iStock

 

InVivo: Existem sinais e sintomas de gravidade aos quais devemos ficar mais atentos?

Dra. Denise: Pneumonia é a infecção que mais mata no planeta, não é só Brasil, é no mundo inteiro. É a doença infecciosa que mais leva à morte e à hospitalização. Então, pneumonia deve ser considerada grave.

A gravidade é dada, principalmente, pela disfunção orgânica que ela gera. Na verdade, a pneumonia também é a principal causa de sepse (manifestações graves em todo o organismo) e de insuficiência respiratória na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Falamos em sinais de gravidade, quando, além de ter febre, o coração fica acelerado e começa a surgir dificuldade e muita dor para respirar. A dor pode estar indicando que a pneumonia está acompanhada de líquido fora do pulmão, que é o derrame pleural.

Então, sempre que a pessoa tem além da febre, tosse e catarro, falta de ar, dor ou alteração do sensório (consciência), são sinais de gravidade que têm que ser valorizados.

A alteração da consciência é um sinal de gravidade da pneumonia muito comum em idosos. Eles podem parecer confusos, excessivamente prostrados e abatidos. Também é um quadro mais frequente na pneumonia causada por bactéria. E inclusive é um sinal de alarme para o risco de sepse, evento mais comum quando a causa é bactéria.

 

Fig 5. Radiografia revela infeção no pulmão na área em destaque circular, evidenciando a doença. Crédito: James Heilman, MD/Wikimedia Commons

 

InVivo: A síndrome respiratória aguda grave (SRAG) pode ser uma complicação da pneumonia?

Dra. Denise: A SRAG é uma síndrome que, em sua definição, não tem causa determinada. O Ministério da Saúde notifica por uma questão de vigilância.

Quando o quadro gripal se acentua com características de gravidade que são relativas exatamente à disfunção da respiração, temos a SRAG. Esta síndrome se refere à falta de ar, queda do nível de oxigênio no sangue (queda da oximetria) e coloração azulada dos lábios ou rosto, quadro conhecido como cianose (condição causada pela má oxigenação).

 

Fig 6. No inverno, o risco de transmissão dos vírus respiratórios aumenta. A mudança de temperatura pode prejudicar um sistema de proteção importante: nossos pelos do nariz, que filtram o ar. E, com isso, ficamos mais expostos aos microrganismos. Crédito: AndreyPopov/iStock

 

InVivo: E quanto ao tratamento? Existem medicamentos para combater as pneumonias?

Dra. Denise: Quando a pneumonia é por bactéria, o antibiótico deve ser iniciado rapidamente. Exatamente porque ele trata e previne que a pneumonia se agrave.

Quanto aos vírus, temos tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para influenza e para Covid-19. Em ambos os casos, os medicamentos têm que ser iniciados bem no início dos sintomas.

 

InVivo: Quais vacinas são importantes para prevenir pneumonia?

Dra. Denise: Em relação à vacina, é importante reforçar que todo o calendário vacinal das crianças protege de diferentes pneumonias. Além da vacina da influenza, que está disponível para qualquer pessoa no Brasil (a partir de 6 meses de idade), tem vacina contra o sarampo (tríplice viral que também protege contra caxumba e rubéola).

E ainda há outras que também protegem contra a pneumonia bacteriana, como a Pneumo 10 (Pneumocócica 10-valente conjugada) e a Hib, vacina contra a bactéria Haemophilus influenzae tipo b – Hib (que é um dos componentes da vacina Pentavalente disponível no SUS).

Há ainda a vacina Pneumo 23 (Pneumocócica 23-valente), que está disponível para pacientes (a partir de 2 anos de idade) com maior risco de desenvolver pneumonia. E também a Pneumo 13 (Pneumocócica 13-valente), que foi incluída há não muito tempo no calendário vacinal exclusivamente para imunossuprimidos. Tanto a Pneumo 23 quanto a Pneumo 13 estão disponíveis em Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).

O fato de termos a Pneumo 10 no calendário de rotina de vacinação infantil fez uma grande diferença. Quando olhamos os gráficos atuais de pneumonia, cada vez mais, ela está associada aos idosos. As crianças, felizmente, têm hoje uma incidência muito menor de pneumonia do que há alguns anos atrás. Mas não é só a vacina pneumocócica que é importante.

 

Fig 7. Manter a vacinação contra a Covid-19 em dia também é mais uma forma de prevenir a pneumonia. Crédito: PeopleImages/iStock

 

InVivo: E que outras medidas, além da vacina, são importantes para prevenir?

Dra. Denise: A prevenção, especialmente, de pneumonia viral, que passa de uma pessoa para outra, envolve ainda a adoção de medidas como lavar as mãos e usar máscara se está com sintomas respiratórios. Não devemos esquecer os cuidados habituais que aprendemos na Covid-19, pois eles valem para todas as situações de risco de pneumonia viral.

 

Saiba mais:

Imunossuprimidos, imunodeprimidos ou imunocomprometidos

CRIE oferta vacinas para pessoas com condições especiais

 

*Parte desta entrevista foi publicada no site do Maré de Notícias, veículo associado do Invivo, em 11 de setembro de 2024. A reportagem ‘A pneumonia é a infecção que mais mata no planeta’, diz especialista’ foi realizada colaborativamente entre Teresa Santos, do Invivo, e Hélio Euclides, do Maré de Notícias.

 

Fontes consultadas:

Dadonaite, Bernadeta e Roser, Max. Pneumonia. Our World in Data. Disponível em: https://ourworldindata.org/pneumonia. Atualização: fev 2024. Acesso: 05 set 2024

Brasil, Biblioteca Virtual em Saúde, Ministério da Saúde. 12/11 – Dia Mundial da Pneumonia. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/12-11-dia-mundial-da-pneumonia-3/#:~:text=As%20principais%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20cl%C3%ADnicas%20da,falta%20de%20ar%20e%20febre. Acesso: 05 set 2024

Caiusca, Alana. Educa+Brasil. Pneumonia. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/pneumonia. Atualização: 22 jul 2020. Acesso: 05 set 2024

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Núcleo de Pesquisa em Evolução Animal (Nupea). Pulmões. Disponível em: https://citogenetica.ufes.br/pt-br/pulmoes. Acesso: 05 set 2024

 

Por Teresa Santos

Data Publicação: 11/09/2024